segunda-feira, 15 de maio de 2017

Edgar Allan Poe e o verdadeiro dono do tríplex

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/politica/2017/05/15/interna_politica,703784/lula-e-o-caso-do-triplex.shtml




Diário de Pernambuco, 15/05/17


Lula e o caso do Tríplex


Por Urariano Mota



No depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro, o destaque do interrogatório foi o famoso tríplex do Guarujá. Esse maravilhoso e paradisíaco superapartamento, luxuoso e digno de um dos maiores líderes políticos do planeta, encheu mais os nossos olhos e ouvidos que o profundo riacho do Ipiranga cantado no Hino Nacional.  
A esta altura, acredito que o tríplex se tornou mais que um caso judicial e político. Pelas perguntas que iam e voltavam, pela riqueza de abordagens, pelos diferentes ângulos levantados por Moro, pelo vulto do vilão, personagens e  crime, o apartamento se fez também o caso do tríplex 174 da literatura policial. Não custa nada lembrar as principais características do gênero.


​ Desde Edgar Allan Poe, com ‘Os Assassinatos da Rua Morgue’, a literatura policial se caracteriza pelos elementos básicos de crime, investigação e descoberta do criminoso. Mas, sabemos: do começo ao fim o desenlace deve ter uma razão lógica e possível.  O narrador, ou a voz que conduz, não pode cometer erros técnicos ao falar do método do crime e da investigação. Os personagens e o ambiente devem ser reais. Percebem? O que haveria de mais concreto que o fabuloso tríplex na praia do Guarujá no tempo da delicadeza da propina?


Acompanhem com infinita paciência, porque assim foi no interrogatório de Lula:


Moro - Senhor ex-presidente, pode esclarecer se havia a intenção desde o início de adquirir um triplex no prédio invés de uma unidade simples?

Lula: Não havia no início e não havia no fim.  Eu quero falar, porque tenho direito de falar que não requisitei, não recebi e nem paguei um apartamento que dizem que é meu.


Moro: Nunca houve a intenção de adquirir esse tríplex?

Lula: Nunca houve a intenção de adquirir o tríplex.


Moro: Aqui, tem uma proposta de adesão, sujeita à aprovação, relativamente ao mesmo imóvel. Isso foi assinado pela senhora Marisa Leticia, vou mostrar aqui para o senhor.

Lula: De quando que é essa data aqui?

Moro: 01/04/2005. Consta nesse documento, não sei se o senhor chegou a verificar, uma rasura. O número 174 correspondente ao tríplex nesse mesmo edifício foi rasurado e, em cima dele, foi colocado o número 141. Este documento em que a perícia da PF constatou ter sido feita uma rasura, o senhor sabe quem o rasurou?

Lula: A Polícia Federal não descobriu quem foi? Não?! Então, quando descobrir, o senhor me fala, eu também quero saber.


Moro: Aqui, consta um termo de adesão de duplex de três dormitórios nesse edifício em Guarujá, unidade 174 A, que depois, com a transferência do empreendimento a OAS, acabou se transformando triplex 164 A. Eu posso lhe mostrar o documento?

Lula: Tá assinado por quem?

Moro: Hmm… A assinatura tá em branco…

Lula: Então, o senhor pode guardar por gentileza!


Moro: O senhor teria alguma explicação pra esse documento ter sido apreendido no seu apartamento?

Lula: Não sei, talvez quem acusa saiba como é que foi parar lá. Eu não sei como tem um documento lá em casa sem adesão de 2004 quando a minha mulher comprou o apartamento [a cota] em 2005...


E mais respondeu o ex-presidente:

“Doutor Moro, o senhor já deve ter ido com sua esposa numa loja de sapatos e ela fez o vendedor baixar 30 ou 40 caixas de sapatos, experimentou  vários e no final, vocês foram embora e não compraram nenhum. Sua esposa é dona de algum sapato, só porque olhou e provou os sapatos? Cadê uma única prova de que eu sou dono de algum tríplex? Apresente provas, doutor Moro”.  

Mas Sérgio Moro voltava com outras palavras, mas com o mesmo conteúdo: “Lula, se não é você, quem pode ser o dono do tríplex?”. Longa, tediosa e incansavelmente as perguntas voltavam.  

Na literatura policial,  dizem que a solução do mistério deve estar evidente desde o início, para mostrar ao leitor o quanto ele foi desatento. Depois de 5 horas de interrogatório, pela insistência, pelas voltas e mais voltas a um só tema e teima, descobri afinal a solução do crime: Moro é o verdadeiro dono do tríplex. Moro é o senhor absoluto do imóvel. Como é que não vimos antes a solução dessa novela policial? Tão simples e não percebemos. Quem disso tanto usa é o seu legítimo proprietário.

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