terça-feira, 16 de maio de 2017

Blá-blá-rina, a imperdoável




Brasil 247, 16/05/17

 

Os tropeços imperdoáveis de Marina



Por Guilherme Coutinho



Marina Silva tem uma biografia digna dos grandes líderes políticos. A acreana, filha de um seringueiro e de uma dona de casa, conheceu de perto a pobreza, trabalhou como doméstica e foi alfabetizada apenas aos 16 anos. Foi eleita Senadora, nomeada Ministra de Lula e foi candidata à Presidência. No entanto, Marina tem cometido um grave erro: fala quando deveria se calar e se cala quando deveria se pronunciar. Se omitiu sobre Mariana, mas declarou apoio público ao impeachment e às reformas de Temer. Não há história que sobreviva com um final tão melancólico.

Marina militou ao lado de Chico Mendes e foi candidata pelo PT ao seu lado em 1986. Ela sempre fez questão de adotar a causa ambiental como seu principal lema político. No entanto, quando o rompimento da barragem em Mariana/MG causou danos irreversíveis à natureza e à população local, sendo o maior desastre ambiental da história, Marina emitiu um silêncio ensurdecedor. Só se pronunciou após sofrer muita pressão da mídia e de seus eleitores. Marina não podia militar contra a Samarco pois devia estar muito ocupada cuidando de seu partido recém-criado. Ironicamente, um partido ambientalista.

Foi atuando justamente como líder do Rede Sustentabilidade, que Marina cometeu um de seus mais decepcionantes discursos. Ela defendeu que seu partido votasse a favor da deposição de Dilma Rousseff. Grave, muito grave. Como pode Marina discursar sobre uma nova política, se aliando ao que há de pior e mais retrógrado nela? Marina foi apenas mais uma que defendeu, publicamente, o rompimento da ordem democrática e um golpe no Brasil.

Após um discurso tão contundente, era de se esperar que Marina passasse por um tempo de incubação. Desaparecesse. Marina não foi vista criticando o governo que ajudou a chegar ao poder, nem os casos de corrupção do PSDB. Marina saiu da toca, pasmem, para defender as reformas trabalhista e previdenciária de Temer. O que a Marina, ainda adolescente, trabalhadora braçal, ou, anos mais tarde, quando foi uma das fundadoras da CUT no Acre, pensaria dessas declarações? Teria Marina decepcionado a si mesma?

Marina já foi candidata a cargos públicos por ao menos três partidos: PT, PV e PSB. Hoje é Persona non grata nas três agremiações. Tentará novamente chegar ao cargo mais alto da República nas próximas eleições, dessa vez por um partido que ela mesma fundou. Seu lema é romper com o modelo atual e fazer o que ela denomina de "nova política". Mas essa política está desgastada demais para ser original. Infelizmente, foi a própria Marina que nos mostrou isso.

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