sábado, 1 de abril de 2017

As propinas e os enriquecimentos de José Serra e Aécio Neves






Jornal GGN, 01/04/17



Propinas serviam para enriquecimento pessoal de Serra



Por Luis Nassif




A informação da coluna Radar (https://goo.gl/EsZI00) da Veja, de que a Odebrecht teria feito pagamentos milionários ao senador José Serra na conta de “uma parente” e através do lobista José Amaro Pinto, é a pá de cal na carreira do senador. Desvenda-se o maior segredo de Polichinelo da história da república: o processo de enriquecimento de Serra na política.

A parente de Serra obviamente é a filha Verônica. Completando a delação do executivo da Odebrecht, há a famosa tarja preta que a Polícia Federal colocou na agenda telefônica de Marcelo Odebrecht, antes de vazar a agenda para a mídia. Amadores, chamaram imediatamente a atenção de todos e não se deram conta de que um bom editor de imagens eliminaria as tarjas revelando os nomes. O compromisso tarjado era de Marcelo Odebrecht, com uma reunião com José Serra justamente no escritório de Verônica.

Com a possibilidade aberta, agora, de quebrar o sigilo das contas de Verônica Serra, especialmente dos seus fundos de investimentos, será bastante simples desvendar todo o sistema de lavagem de dinheiro de Serra, que o transformou em um dos políticos mais ricos do país.

Os dois caminhos de Serra para a lavagem de dinheiro foram o mercado de tecnologia e o de obras de arte – ambos propícios à lavagem devido às precificações bastante voláteis e subjetivas.

Pessoas que visitaram Serra em sua casa, aliás, se espantaram com a quantidade de obras de arte espalhadas pelas paredes. Na denúncia que a PGR encaminhará ao STF (Supremo Tribunal Federal), se saberá qual o estágio atual de Rodrigo Janot em relação à blindagem de Serra. Se não incluir abertura de contas de Verônica e arresto de obras de arte, não será uma investigação séria. 

Aqui está um roteiro simples e algumas pistas  para destrinchar os métodos de lavagem de dinheiro de Serra:

1.      O caso Santander-Banespa

Desde os idos de 2.000, Serra já se valia das incursões de Verônica no mercado de tecnologia para lavar dinheiro. Quem a conheceu na época sabia ser uma moça limitada, sem noção clara sobre empresas startups. Mesmo assim, conseguia feitos extraordinários. 

O primeiro deles foi sua aproximação com argentinos da Patagon – um sistema de banking eletrônico. Verônica conseguiu vender para o Santander por US$ 700 milhões, uma soma impossível. O próprio presidente do banco participou das negociações. 

Anos depois, procurei mapear os interesses do Santander na época. O maior deles era relacionado com a compra do Banespa. Para conseguir viabilizá-lo economicamente necessitava que fossem mantidas no banco as contas dos funcionários públicos e do Estado. A lei impedia. 

De alguma forma, o Santander obteve a autorização. Embora o tempo transcorrido seja grande, provavelmente o rastro do dinheiro mostraria os beneficiários desse jogo e a maneira como conseguiu atropelar as leis e preservar as contas públicas, mesmo após a privatização do banco.

Pouco tempo depois, o Santander pagou US$ 5 milhões para os argentinos receberem o software de volta. Hoje em dia, ele repousa em um computador desligado, em um banco médio paulista.

2.      O caso Experian-Virid

O grupo britânico Experian adquiriu a Serasa e avançou como um leão faminto sobre o mercado de avaliação de devedores e de bancos de dados. Nessa ocasião houve a entrega para Experian do banco de dados do Tribunal Superior Eleitoral pela presidente Carmen Lúcia. A operação voltou atrás depois do protesto de Marco Aurélio de Mello. Carmen Lúcia provavelmente não sabia dos valores envolvidos no mercado de banco de dados. Mas seria interessante saber dela quem a convenceu a oferecer o banco de dados do TSE.

A operação mais suspeita da Experian foi com os Cadins (Cadastro dos Devedores) estaduais. No final do seu governo, Serra entregou à Experian o Cadin do estado. Além do mais valioso, abriu as portas da Experian para os demais Cadins estaduais.

Pouco tempo depois, Verônica adquiriu participação em uma empresa de e-mail marketing, a Virid – que, na opinião de analistas de mercado não deveria valer mais de R$ 30 milhões. Em seguida revendeu-a para a Experiência por R$ 104 milhões. Na época, consultei o setor de relações com o mercado da Experian, em Londres, e me informaram que o valor da operação era sigiloso.

3.      Os negócios com Daniel Dantas

No livro 'A Privataria Tucana', o repórter Amaury Junior esmiuça os jogos de offshores de Verônica.


Há dois episódios pouco analisados e escandalosos. Um deles, o site de comércio exterior que Verônica montou com a irmã de Dantas e que conseguiu o acesso a informações sigilosas do Banco Central e do Banco do Brasil. Se não fosse denunciado, valeria dezenas de milhões de dólares.

Na campanha de 2002, Serra esquentou a casa onde morava, perto da Praça Pan-americana, com recursos supostamente enviados por Verônica dos Estados Unidos. Foi um esquentamento feito às pressas, depois que o PT levantou suspeitas sobre a casa.

Aliás, a história da casa é relevante. Serra a adquiriu quando Secretário do Planejamento de Montoro e quando corriam rumores da montagem de uma indústria de precatórios no Estado: mediante propinas, conseguia-se furar a fila de anos. Serra sempre dizia que alugara a casa – enorme – porque conseguira um aluguel especial com o proprietário.

4.      Os fundos de investimento

O fundo de investimento de Verônica Serra possui 10% do Mercado Libre, portal cotado até pouco tempo na Nasdaq em US$ 2 bilhões. Quebrando o sigilo de Verônica, será fácil rastrear a maneira como em tão pouco tempo ela acumulou um capital de US$ 200 milhões em apenas um investimento.

5.      O fator José Amaro Pinto

O lobista José Amaro Pinto sempre teve ligações estreitas com o lado FHC do PSDB. Foi colega de Sérgio Motta e FHC na Sociologia e Política. É um senhor já de idade, culto, cortês e que, até esta última informação, era conhecido como lobista dos grupos franceses junto ao Brasil. Dentre seus clientes estava a Dassault, que fabrica os Mirage, a Tales, de radares, e a notória Asltom.

Com a informação de que foi o intermediário entre a Odebrecht e Serra, surge a verdadeira face de Ramos: em vez de lobista da França no Brasil, era lobista do PSDB junto a interesses franceses.






Jornal do Brasil, 01/04/17



Aécio recebeu propina da Odebrecht em conta de Nova York, afirma delator



Jornal do Brasil




Denúncia publicada na edição da revista Veja que chega às bancas neste fim de semana informa que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), campeão de citações nas delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht, recebeu propina em uma conta em Nova York, nos Estados Unidos. A declaração consta no depoimento do ex-­pre­sidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Junior, um dos 78 executivos da empreiteira a firmar acordo de delação com a Justiça.

Em seu depoimento, BJ, como é conhecido, afirmou que a construtora baiana fez depósitos para Aécio em conta sediada em Nova York operada por sua irmã e braço-direito, a jornalista Andrea Neves. Os valores, de acordo com BJ, foram pagos como “contrapartida” ao atendimento de interesses da construtora em empreendimentos como a obra da Cidade Administrativa do governo mineiro, realizada entre 2007 e 2010, e a construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no Estado de Rondônia, de cujo consórcio participa a Cemig, a estatal mineira de energia elétrica.

Nas delações de executivos da Odebrecht, Aécio Neves é o político que recebeu uma das mais altas somas da construtora, R$ 70 milhões. Este valor não aparece nas contas de campanha do senador tucano declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com informações do TSE, Aécio recebeu oficialmente da Odebrecht R$ 15,9 milhões, uma diferença de mais de R$ 50 milhões em relação ao que foi relatado nas delações da empreiteira. Destes R$ 70 milhões, cerca de R$ 50 milhões foram repassados ao senador depois que a Odebrecht venceu o leilão para a construção da hidrelétrica de Santo Antônio, em dezembro de 2007, de acordo com outra delação, a de Marcelo Odebrecht.

Aécio Neves é campeão de pedidos de investigação na lista de Janot

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) lidera a lista de pedidos de abertura de investigação entregues pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF). A relação de nomes que são alvo de inquérito com base nas delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht foi entregue ao Supremo na semana passada.

De acordo com a coluna Expresso, da revista Época, o depoimento de Henrique Valladares, ex-executivo da Odebrecht,  é devastador para o tucano. Valladares revelou que Aécio recebeu propina numa conta secreta em Cingapura em nome de um amigo. O ex-executivo afirma que Aécio tinha esquema com Dimas Toledo, ex-dirigente de Furnas. O pagamento em Cingapura foi vinculado a benefícios obtidos pela empreiteira em Furnas, diretamente a investimentos no Rio Madeira.

De acordo com as delações, o senador do PSDB também é acusado de receber propina nas obras da Cidade Administrativa, sede do governo de Minas Gerais. Uma das parcelas da propina foi entregue numa concessionária da capital mineira que pertence a Oswaldo Borges, uma espécie de tesoureiro informal do tucano, segundo a revista. Quem relatou o acerto do pagamento da propina foi Sérgio Neves, ex-executivo da Odebrecht.

Na lista dos pedidos de inquérito que Rodrigo Janot enviou ao Supremo na terça-feira (14) há pelo menos cinco ministros do governo de Michel Temer. Há 83 pedidos de abertura de inquérito, a partir dos acordos de colaboração premiada firmados com 77 executivos e ex-executivos das empresas Odebrecht e Braskem. Também foram solicitados 211 declínios de competência para outras instâncias da Justiça, nos casos que envolvem pessoas sem prerrogativa de foro, além de sete arquivamentos e 19 outras providências.

Delator diz que Aécio Neves era "o mais chato" para cobrar propina

O delator Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, responsável pela entrega de valores, afirmou em depoimento gravado ter ouvido que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) era "o mais chato" na cobrança de propina junto à empreiteira UTC.

De acordo com a reportagem, em dezembro, "Ceará" afirmara em sua delação ter levado R$ 300 mil a um diretor da UTC no Rio, de sobrenome Miranda, que seriam destinados a Aécio. Rocha era um dos transportadores de valores contratados pelo doleiro Alberto Youssef.

Ainda segundo a Folha, no vídeo ao qual a reportagem teve acesso, Rocha disse que o episódio lhe "marcou muito". Contou que Miranda estava ansioso pela "encomenda" e teria lhe falado: "Esse dinheiro tá me sendo muito cobrado". Questionado por "Ceará", o diretor da UTC teria respondido que se tratava de Aécio o destinatário do dinheiro. "[Miranda] ainda falou que era o mais chato que tinha para cobrar", contou Rocha.

De acordo com a gravação, quando perguntado se o dinheiro tinha sido encaminhado para Aécio, Rocha disse: "Sim, senhor. Ele [Miranda] falou bem claro pra mim em alto e bom som". Segundo o delator, o diretor teria feito um "desabafo": "Eu sei que ele fez esse comentário, que era quem cobrava, enchia o saco, ele tava de saco cheio de tanta cobrança desse dinheiro".

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