terça-feira, 28 de maio de 2013

Por que os mapas deveriam ser virados de lado

28 de Maio de 2013

       

Mundo
 
Reimaginando os mapas da Terra: por que eles deveriam ser virados de lado
 
Por - Kurt Hollander
 
Embora nunca tenha cruzado a Linha do Equador, o matemático grego Pitágoras é às vezes creditado como pioneiro na concepção dela, tendo calculado sua localização na esfera terrestre mais de quatro séculos antes do nascimento de Cristo. Aristóteles, que também nunca pôs os pés lá e nada sabia sobre a paisagem do local, imaginou a região equatorial como um lugar tão quente que ninguém poderia viver nela: a “Zona Tórrida”.
Os cartógrafos do cristianismo medieval, familiarizados apenas com uma pequena parte do planeta, trabalhavam com as limitações rigorosas estabelecidas pela interpretação da Bíblia feita pela Igreja. A Terra dela era plana. Criados no século VII, os mapas cristãos orbis terrarum (círculo da Terra) – conhecidos por razões visuais como mapas “T e O” - traziam apenas o hemisfério norte.
Essa ideia medieval ainda era válida quando Colombo navegou pela primeira vez da Espanha até a “Índia”, em 1492. Colombo, que já havia visto portos portugueses abaixo do Saara na África Ocidental, discordou da Igreja: ele proclamou que a Zona Tórrida não era “inabitável”. A “descoberta” da América por Colombo expandiu a limitada mente europeia da época.  A Linha do Equador foi gradualmente reimaginada: não mais o limite extremo da humanidade, um inferno geográfico na Terra; ela virou apenas o centro do planeta.


Mapa antigo.


Legiões de turistas pipocam no Museu Intiñan na Ciudad Mitad del Mundo, Equador, para testemunhar com seus próprios olhos as “forças únicas em ação” da linha imaginária que divide o planeta, indicadas por uma linha vermelha que passa pelo meio do museu.
Que “forças únicas” são essas? A velocidade da rotação da Terra varia de acordo com o local onde você está: 1.600 km/h no Equador contra quase zero nos polos. Isso significa que o nascer e por do Sol mais rápidos do planeta acontecem na Linha do Equador, e que as forças centrífuga e inercial são muito maiores lá. Juntas, elas produzem o que é conhecido por efeito Coriolis, que determina em grande parte: a direção dos sistemas climáticos; as correntes oceânicas; o caminho de leste a oeste dos furacões; e o fato de que os tornados giram em direções opostas em cada lado do Equador. (Não é o suficiente, porém, para alterar o equilíbrio de ovos em cima de pregos, ou o sentido da espiral da água no ralo de uma pia).
Devido a essas mesmas forças centrífugas, o diâmetro da Terra no Equador é aproximadamente 43 km maior do que de polo a polo. Em vez de uma esfera, nosso planeta tem o formato de um M&M (ou, como a New Scientist disse em 2011, como uma batata deformada). A distância extra do núcleo da Terra significa que a gravidade é mais fraca no Equador: cerca de 0,6% menor que nos polos. A protuberância equatorial traz outra consequência: o ponto mais alto da Terra, quando medido pela distância do seu núcleo (em vez do nível do mar), não é o pico do Monte Everest, mas o Monte Chimborazo, no Equador.


Cristóbal Cobo
Cristóbal Cobo na linha do Equador, no enorme relógio solar de Quitsato. Foto por Kurt Hollander.


Cristóbal Cobo, um guia, astrônomo, antropólogo e geógrafo autodidata equatoriano, de voz grave e no alto dos seus quarenta e poucos anos, costumava realizar passeios regulares de Quito à cadeia de montanhas a 16 km ao norte para voar de asa-delta. Seus voos solos davam-lhe uma visão aérea do lugar, enquanto o uso da tecnologia GPS, Google Earth e Stellarium ajudava-o a registrar a Linha do Equador naquela região.
Cobo questiona o direcionamento que a cartografia tomou. Em 150 a.C., Ptolomeu desenho o primeiro mapa-múndi com o norte afixado firmemente no topo. Sua orientação virou padrão para mapas de todos os lugares. A preeminência do norte deriva do uso da Polaris, também conhecida como Estrela do Norte, como guia dos navegadores – ainda que a Polaris, ou qualquer outra estrela, na verdade não esteja em um ponto fixo. Graças à atração gravitacional do Sol e da Lua, a Terra se move como se seu topo estivesse balançando. Esse movimento, conhecido entre os astrônomos como a precessão do Equador, representa uma mudança cíclica no eixo de rotação da Terra. Ela faz com que as estrelas pareçam se mover no céu a um compasso de cerca de um grau a cada 72 anos. Essa mudança gradual significa que a Polaris, em um dado momento, deixará de ser vista como a Estrela do Norte, e os navegadores terão que se orientar por outros meios.
De acordo com Cobo, o melhor ponto que você pode usar para se orientar é o nascimento do Sol a leste, acima do Equador. Como ele indica, a própria palavra “orientação” vem do latim oriens, que significa leste, ou nascer do sol, enquanto “desorientar” significa perder a direção, o rastro de alguém ou, literalmente, perder o leste. Na cultura ocidental, o norte é usado para determinar todas as outras direções; a origem da palavra vem do prefixo proto-indo-europeu ner-, que significa abaixo ou embaixo, mas também esquerda e que era mais comumente usado como “à esquerda quando de frente ao Sol nascente”. Assim, para determinar o norte, é preciso saber onde fica o leste.
Em 1569, o cartógrafo flamengo Gerardus Mercator, o primeiro a produzir globos terrestres e solares, concebeu um sistema para projetar o círculo da Terra em uma folha plana de papel. Sua “descrição nova e aumentada da Terra corrigida para o uso dos navegadores” fez a Terra com a mesma largura no Equador e nos polos, distorcendo assim o tamanho dos continentes. Embora Mercator tenha criado seu projeto (ainda hoje usado em mapas do mundo inteiro) para fins de navegação, seu sistema levou os países do norte a se darem uma importância exagerada de si mesmos, localizados no topo do mapa, enquanto diminuiu a sensação de tamanho e importância dos do hemisfério sul.
Esse posicionamento do norte acima do hemisfério sul, e a distorção de seus tamanhos reais na maioria dos mapas, dividiu o globo em oposições binárias simplistas: Primeiro contra Terceiro mundo; civilizados contra primitivos; países desenvolvidos contra subdesenvolvidos. Na verdade, faria muito mais sentido dividir o mundo nas Zonas Temperada, Tórrida e Glacial de Aristóteles, segundo a qual não é o hemisfério sul o local de maior concentração da pobreza, mas a região equatorial.
Nos primórdios, mais do que serem puramente representações do mundo físico, os mapas eram projeções do senso do homem e de sua própria importância no espaço a seu redor. Eles eram frequentemente influenciados por interesses imperiais ou religiosos, anexados ao status privilegiado de certas culturas. Cobo acredita que muitas das hierarquias geopolítica, ideológica e econômica que moldam a nossa visão do mundo “desapareceriam” se o globo fosse deitado de lado e todos os mapas rotacionados em 90º no sentido horário, colocando o leste no topo do mundo e o norte com o sul espalhados nos dois lados do Equador.
É verdade que no espaço as direções não existem. Na Terra, porém, o leste é a nossa orientação mais universal. Perde-se de vista o hemisfério celestial sul quando visto do norte, e é só olhando para o leste que se pode ver as constelações do norte e do sul simultaneamente enquanto as estrelas passam acima de nós. Na medida em que nosso planeta vaga pelo espaço, girando em torno do seu eixo, o vento, o Sol e as estrelas, e também o tempo e o futuro, mostram-se a partir do leste. Não existe maneira melhor de apreciar o movimento dos céus, entender melhor o nosso local no universo, do que quando ficamos parados na linha que circunda o meio da Terra e observamos o cosmos passar por nós.

Este trecho foi republicado com a permissão da Aeon Magazine. Para lê-lo na íntegra, em inglês, clique aqui.

A Aeon é uma nova revista digital de ideias e cultura, publicando um artigo original por dia. Ela se propõe a fortalecer o debate acerca das visões do mundo, recrutando escritores de primeira em uma ampla variedade de gêneros, incluindo memórias, ciência e reportagens sociais.

"Servi de cobaia para aula de tortura", diz historiado​ra à Comissão da Verdade

Como classificar uma pessoa como Amado Batista... Que pobreza de espírito!

Ivan
UOL, 28/05/2013
 
 

"Servi de cobaia para aula de tortura", diz historiadora à Comissão da Verdade no Rio

Paula Bianchi
Do UOL, no Rio



A historiadora Dulce Pandolfi afirmou em depoimento à Comissão da Verdade do Rio que foi "cobaia" em aulas de tortura para agentes do Estado
A historiadora Dulce Pandolfi afirmou em depoimento à Comissão da Verdade do Rio que foi "cobaia" em aulas de tortura para agentes do Estado

A historiadora Dulce Pandolfi, presa e torturada na década de 1970, durante a ditadura militar, afirmou em depoimento à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, nesta terça-feira (28), que foi "cobaia" em aulas de tortura para agentes do Estado. "Dois meses depois da minha prisão e já dividindo a cela com outras presas, servi de cobaia para uma aula de tortura. O professor, diante de seus alunos, fazia demonstrações com o meu corpo. Era uma espécie de aula prática com algumas dicas teóricas", disse, ao contar que um médico chegou a examiná-la depois que ela começou a passar mal para garantir que ela resistiria até o fim da aula.
Dulce, que fazia parte do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Universidade Federal de Pernambuco quando foi presa, contou que levava choques elétricos pendurada em um pau de arara, enquanto o professor dizia que aquela era a técnica mais eficaz. Ela foi levada para o quartel do Exército da rua Barão de Mesquita, na Tijuca, zona norte do Rio, onde funcionava o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna). Depois, foi transferida para o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), na rua da Relação, no centro. Ela ficou um ano e quatro meses presa.
Para a historiadora, o principal papel da comissão é garantir que a existência da tortura por parte do Estado não seja esquecida. "É muito duro lembrar toda essa situação, mas é fundamental para que possamos construir um país mais justo e humano", disse.
A cineasta Lúcia Murat também depôs nesta terça e disse que tentou várias vezes se matar. "A tortura era prática da ditadura, e nós sabíamos disso pelo relato dos companheiros que tinham sido presos antes. Mas nenhuma descrição seria comparável ao que eu vim a enfrentar. Não porque tenha sido mais torturada do que os outros, mas porque o horror é indescritível", afirmou.
Além de ter sido presa no pau de arara, a cineasta disse que foi submetida a choques elétricos, espancamentos, entre outras técnicas que envolviam inclusive o uso de baratas sobre as feridas. Ela também foi levada primeiro para o DOI-CODI na Barão de Mesquita. Depois. foi encaminhada para o quartel de Barbalho, em Salvador. Ela ficou três anos e meio presa.
"Não aceitei dar esse depoimento nem por vingança nem por masoquismo, mas porque acho fundamental contar essa história. Revelar que foram, sim, praticados crimes de lesa humanidade durante a ditadura", afirmou Lúcia.
Ainda não foi definido quem serão as próximas pessoas ouvidas pela comissão publicamente. Os depoimentos desta terça-feira serão publicados na íntegra na edição de quarta-feira (29) do Diário Oficial da Assembleia Legislativa.

Lei da Anistia

Para o diretor-executivo da Anistia Internacional no Brasil, Atila Pereira Roque, que acompanhou os depoimentos, as discussões geradas pela instauração da Comissão da Verdade, tanto a nacional quanto as estaduais, levarão a uma revisão da Lei da Anistia.
"A comissão trata de crimes que não prescrevem, considerados de lesa-humanidade, que a legislação de tratados de direitos humanos internacionais dos quais o Brasil é signatário obriga que sejam responsabilizados. Não vai ter como evitar essa conversa, num segundo momento teremos que revisitar a própria lei da anistia", afirma. 
Roque diz acreditar que, apesar de não ter a prerrogativa de apontar culpados, a comissão é um grande avanço para o país, ao trazer o tópico de volta ao debate e incentivar a criação de outros grupos de discussão sobre o que aconteceu durante a ditadura. "Esse exercício de olhar para o passado sem medo e entender qual foi o papel do Estado na instauração do terror é muito importante", afirmou.
Criada em maio do ano passado, a Comissão da Verdade tem por finalidade apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 e tem até dezembro de 2014 para entregar um relatório com o resultado dos trabalhos.

"Eu mereci", diz Amado Batista

Em entrevista ao programa "De Frente com Gabi", do SBT, que foi ao ar na madrugada desta segunda (27), o cantor Amado Batista disse não se sentir vítima do Estado por ter sido torturado durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Ainda comparou seus torturadores a "uma mãe que corrige um filho".
De acordo com o cantor, quando os militares investigaram seus clientes na livraria, acabaram chegando até ele. Batista ficou preso por dois meses. "Me bateram muito. Me deram choques elétricos", disse.
"Um dia me soltaram, todo machucado. Fiquei tão atordoado. Queria largar tudo e virar andarilho."
Questionado pela entrevistadora se teria vontade de confrontar seus torturadores, o cantor foi enfático: "Não. Eu acho que mereci. Fiz coisas erradas, eles me corrigiram, assim como uma mãe que corrige um filho. Acho que eu estava errado por estar contra o governo e ter acobertado pessoas que queriam tomar o país à força. Fui torturado, mas mereci".

Violência contra a mulher: mais de 40.000 homicídios femininos em uma década


 





Violência contra a mulher: mais de 40.000 homicídios femininos em uma década




Luiz Flávio Gomes


Apesar dos avanços dos últimos anos, no que tange à violência contra a mulher, levantamento feito Instituto Avante Brasil apontou que 40.000 mil mulheres foram vítimas de homicídios no Brasil, entre 2001 e 2010. Só no ano de 2010, 4,5 entre 100.000 mulheres perderam suas vidas no país.

Consoante o Instituto Avante Brasil, em 2010, uma mulher foi vítima de homicídio a cada 1 hora, 57 minutos e 43 segundos. Em 2001, a média era de 2 horas, 15 minutos e 29 segundos. O crescimento de mortes anual, entre 2001 e 2010, foi de 1,85% ao ano.

A mesma projeção aponta que em 2013 deverão ocorrer 4.717 homicídios entre as mulheres brasileiras.

Segundo a Organização das Nações Unidas, cerca de 70% das mulheres sofrerão algum tipo de violência no decorrer de sua vida. E, de acordo com o Banco Mundial, as mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência doméstica do que de câncer, acidentes de carro, guerra e malária.

Na América do Sul, o Brasil só perde em homicídios de mulheres para a Colômbia, que registrou, em 2007, uma taxa de 6,2 mortes para cada 100.000 mulheres. Atrás do Brasil vem a Venezuela, com 3,6 mortes para cada 100.000 mulheres em 2007, Paraguai que registrou em 2008 1,3 mortes para cada 100.000 mulheres e o Chile com 1 homicídio feminino para cada 100.000 mulheres em 2007.

Pesquisa da Organização Mundial da Saúde que traz informações de 2006 a 2010 mostra que, se comparado com alguns países com dados homogêneos, a diferença é ainda maior: o Brasil ganha da Rússia, que registrou, em 2009, 7,1 homicídios femininos, mas atrás de países como Estados Unidos, Japão, França e Reino Unido.

A Organização Mundial da Saúde sugere que existam alguns fatores de risco que podem ser associados a um indivíduo que pratica um crime contra a integridade física de uma mulher:

- níveis mais baixos de educação (perpetração da violência sexual e da experiência de violência sexual);
- exposição a maus-tratos (perpetração e experiência);
- testemunho de violência familiar (perpetração e experiência);
- transtorno de personalidade antissocial (perpetração);
- uso nocivo do álcool (perpetração e experiência);
- ter múltiplos parceiros ou suspeita por seus parceiros de infidelidade (perpetração), e atitudes que estão aceitando de desigualdade violência e gênero (perpetração e experiência).


Apesar de todas as campanhas e recomendações das Organizações Mundiais contra a violência feminina, o que se vê (no Brasil) são números que crescem e preocupam a cada dia mais.

O número de estupros no estado de São Paulo, por exemplo, ganhou proporções descomunais. O número de vítimas não para de crescer. Segundo dados da Secretaria de Segurança de São Paulo, o crime de estupro foi o delito que mais aumentou nos últimos anos no nosso Estado. De 2005 a 2012 houve um crescimento médio anual de 19,7%, o que significa uma alarmante evolução de 230%.

Não basta apenas apresentarmos soluções ou agravarmos esse tipo de crime, mais que isso, faz-se necessário que os cidadãos sejam educados à valorização da vida e do ser humano de um modo geral.

Especialmente no que tange às mulheres, que por fazerem parte durante décadas de uma sociedade patriarcal, encontram dificuldades no momento em que percebem estar sendo vítima do abuso ou da violência, de denunciar seus opressores, muitas vezes parceiros e membros da família.
Luiz Flávio Gomes é jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil
(www. institutoavantebrasil.com.br).

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Bar em favela do Rio vende cerveja artesanal e petisco chique

http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/05/27/bar-em-favela-do-rio-vende-cerveja-artesanal-e-petisco-chique-a-gringo.htm


27/05/2013

Bar em favela do Rio vende cerveja artesanal e petisco chique a gringo
 

Afonso Ferreira
Do UOL, em São Paulo
 
 
 
O bistrô Estação R&R, no Complexo do Alemão (RJ), comercializa cerca de 150 marcas de cervejas artesanais, importadas e nacionais; os preços variam de R$ 5 a R$ 250.
 
 
De olho na Copa das Confederações e na Copa do Mundo, donos de botecos nas comunidades pacificadas do Rio de Janeiro (RJ) apostam em produtos sofisticados para atrair turistas, principalmente estrangeiros, e até mesmo moradores locais.
É o caso do bistrô Estação R&R, no Complexo do Alemão, que vende cervejas artesanais, importadas e nacionais. Já no Bar do David, no morro Chapéu Mangueira, o carro-chefe são os petiscos elaborados com ingredientes nobres, como camarão, polvo, lula e mexilhões.
As duas comunidades contam com uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Marcelo Ramos, 38, abriu o bistrô Estação R&R há cinco meses, quando a UPP já estava instalada no Alemão. Foram necessários nove meses e R$ 30 mil para transformar a garagem desocupada do sogro em um espaço comercial.
No início, Ramos comercializava apenas 20 rótulos de cervejas. Hoje, segundo ele, a empresa vende cerca de 150 marcas. Os valores variam de R$ 5, para uma Ravache de 300 ml, à R$ 250, para uma garrafa de 750 ml da cerveja belga Deus.
Apesar de não divulgar o faturamento, o empresário diz que por semana –o bistrô funciona apenas de quinta-feira a sábado– são vendidas, em média, 400 cervejas. Ramos quer consolidar o negócio antes de abandonar o seu emprego de técnico de telecomunicações e começar a abrir o bar todos os dias.
"Metade dos meus clientes é morador da comunidade e a outra metade é turista. Minha proposta é mostrar que o morador da favela também pode consumir cerveja artesanal e ter bom gosto", afirma.
Para a Copa das Confederações, que começa no dia 15 de junho, Ramos pretende abrir o estabelecimento também às quartas-feiras. Até a Copa do Mundo, no próximo ano, ele pretende funcionar todos os dias.
"Tenho parceria com empresas de turismo que trazem um tradutor quando fecham pacotes para estrangeiros. Nas Olimpíadas de 2016 já quero ter a segunda loja em funcionamento", declara.

Bar já recebeu prefeito de Nova York

No Chapéu Mangueira, o empresário David Vieira Bispo, 41, comanda o Bar do David desde 2010, quando já havia uma UPP na comunidade. Bispo diz que investiu R$ 10 mil para abrir o negócio, mas precisou gastar mais R$ 30 mil no início deste ano para melhorar a estrutura do espaço, visando os eventos esportivos.
O carro-chefe do negócio são os petiscos com ingredientes nobres. Os mais pedidos são o croquete e a feijoada de frutos do mar, que custam R$ 21,90 e R$ 19, respectivamente.
Este ano, o empresário lançou mais um aperitivo: o Favela Chic, linguiças empanadas com molhos cheddar e chimichurri. O preço é R$ 22,90. O faturamento não foi divulgado.
A fama dos petiscos do Bar do David já atraiu políticos e músicos ao estabelecimento. O mais ilustre foi o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, no ano passado, durante a Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre sustentabilidade.
"Já sabia que ele viria quase uma semana antes, teve todo um esquema de segurança. Foi uma visita rápida, mas foi importante para valorizar nossa comunidade", declara.
Segundo Bispo, nos finais de semana e feriados, são atendidos cerca de 200 clientes em um dia. No entanto, durante os dias úteis, o movimento cai em torno de 60%.

UPPs incentivam formalização de negócios

De acordo com a coordenadora de empreendedorismo em comunidades pacificadas do Sebrae-RJ (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas do Rio de Janeiro), Carla Teixeira, a instalação das UPPs nas favelas cariocas ajudaram no processo de formalização de negócios nestas regiões.
Desde 2010, cerca de 3.000 empresas se formalizaram com auxílio direto do Sebrae nas comunidades pacificadas, segundo Teixeira. No entanto, o número real de formalizações é ainda maior porque é possível formalizar um negócio diretamente no portal do empreendedor ou em escritórios de contabilidade.
"A formalização está ligada ao contexto social. Se a água e a luz são informais, o comércio também será informal. Mas, se esses serviços passam a ser formais, as empresas tendem a fazer o mesmo", diz.
Apesar desse cenário, Teixeira afirma que há muito a ser feito. Em cada dez empresas nas favelas cariocas, oito ainda são informais, segundo estudo do Sebrae-RJ.
"Muitas dessas empresas ficam em regiões íngremes e com ruas estreitas, o que dificulta a chegada e a saída de mercadorias. Além disso, há falta de mão de obra qualificada e dificuldade em acessar novas tecnologias", declara.


Empresas precisam se adaptar para receber turistas

De acordo com a coordenadora do Sebrae-RJ, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo vão levar um grande número de turistas às comunidades pacificadas, que já se tornaram atrações turísticas.
As maiores oportunidades são para guias turísticos, intérpretes, bares, restaurantes, hostes e artesanato.
Para aproveitar o movimento de turistas estrangeiros nestas comunidades, a coordenadora administrativa do Iarj (Instituto de Administração do Rio de Janeiro), Amanda Dias, afirma que os estabelecimentos precisam fazer adaptações na forma de comunicação com o público.
Segundo Dias, os empresários podem providenciar cardápios, cartazes e avisos em inglês e, se possível, também em espanhol, pois haverá um grande movimento de turistas latino-americanos durante os eventos esportivos.
"Os empresários podem, ainda, formar grupos para contratar intérpretes. É importante que os estabelecimentos tenham condições de atender os clientes que não dominam o português", declara.
 
              

sábado, 25 de maio de 2013

A cada ano, 80 mil crianças do mundo morrem de doenças facilmente tratáveis. Nenhuma delas é cubana

 
 
 
 
Médicos cubanos no Brasil?
 
 
Frei Betto
 

O Conselho Federal de Medicina (CFM) está indignado frente ao anúncio da presidente Dilma de que o governo trará 6.000 médicos de Cuba, e outros tantos de Portugal e Espanha, para atuarem em municípios carentes de profissionais da saúde. Por que aqui a grita se restringe aos médicos cubanos? Detalhe: 40% dos médicos do Reino Unido são estrangeiros.
Também em Portugal e Espanha há, como em qualquer país, médicos de nível técnico sofrível. A Espanha dispõe do 7º melhor sistema de saúde do mundo, e Portugal, o 12º. Em terras lusitanas, 10% dos médicos são estrangeiros, inclusive cubanos, importados desde 2009. Submetidos a exames, a maioria obteve aprovação, o que levou o governo português a renovar a parceria em 2012.
Ninguém é contra o CFM submeter médicos cubanos a exames (Revalida), como deve ocorrer com os brasileiros, muitos formados por faculdades particulares que funcionam como verdadeiras máquinas de caça-níqueis.
O CFM reclama da suposta validação automática dos diplomas dos médicos cubanos. Em nenhum momento isso foi defendido pelo governo. O ministro Padilha, da Saúde, deixou claro que pretende seguir critérios de qualidade e responsabilidade profissionais.
A opinião do CFM importa menos que a dos habitantes do interior e das periferias de nosso país que tanto necessitam de cuidados médicos. Estudos do próprio CFM, em parceria com o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, sobre a "demografia médica no Brasil”, demonstram que, em 2011, o Brasil dispunha de 1,8 médico para cada 1.000 habitantes.
Temos de esperar até 2021 para que o índice chegue a 2,5/1.000. Segundo projeções, só em 2050 teremos 4,3/1.000. Hoje, Cuba dispõe de 6,4 médicos por cada 1.000 habitantes. Em 2005, a Argentina contava com mais de 3/1.000, índice que o Brasil só alcançará em 2031.
Dos 372 mil médicos registrados no Brasil em 2011, 209 mil se concentravam nas regiões Sul e Sudeste, e pouco mais de 15 mil na região Norte.
O governo federal se empenha em melhorar essa distribuição de profissionais da saúde através do Provab (Programa de Valorização do Profissional de Atenção Básica), oferecendo salário inicial de R$ 8 mil e pontos de progressão na carreira, para incentivá-los a prestar serviços de atenção primária à população de 1.407 municípios brasileiros. Mais de 4 mil médicos já aderiram.
O senador Cristovam Buarque propõe que médicos formados em universidades públicas, pagas com o seu, o meu, o nosso dinheiro, trabalhem dois anos em áreas carentes para que seus registros profissionais sejam reconhecidos.
Se a medicina cubana é de má qualidade, como se explica a saúde daquela população apresentar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), índices bem melhores que os do Brasil e comparáveis aos dos EUA?
O Brasil, antes de reclamar de medidas que beneficiam a população mais pobre, deveria se olhar no espelho. No ranking da OMS (dados de 2011), o melhor sistema de saúde do mundo é o da França. Os EUA ocupam o 37ºlugar. Cuba, o 39º. O Brasil, o 125º lugar!
Se não chegam médicos cubanos, o que dizer à população desassistida de nossas periferias e do interior? Que suporte as dores? Que morra de enfermidades facilmente tratáveis? Que peça a Deus o milagre da cura?
Cuba, especialista em medicina preventiva, exporta médicos para 70 países. Graças a essa solidariedade, a população do Haiti teve amenizado o sofrimento causado pelo terremoto de 2010. Enquanto o Brasil enviou tropas, Cuba remeteu médicos treinados para atuar em condições precárias e situações de emergência.
Médico cubano não virá para o Brasil para emitir laudos de ressonância magnética ou atuar em medicina nuclear. Virá tratar de verminose e malária, diarreia e desidratação, reduzindo as mortalidades infantil e materna, aplicando vacinas, ensinando medidas preventivas, como cuidados de higiene.
O prestigioso New England Journal of Medicine, na edição de 24 de janeiro deste ano, elogiou a medicina cubana, que alcança as maiores taxas de vacinação do mundo, "porque o sistema não foi projetado para a escolha do consumidor ou iniciativas individuais”. Em outras palavras, não é o mercado que manda, é o direito do cidadão.
Por que o CFM nunca reclamou do excelente serviço prestado no Brasil pela Pastoral da Criança, embora ela disponha de poucos recursos e improvise a formação de mães que atendem à infância? A resposta é simples: é bom para uma medicina cada vez mais mercantilizada, voltada mais ao lucro que à saúde, contar com o trabalho altruísta da Pastoral da Criança. O temor é encarar a competência de médicos estrangeiros.
Quem dera que, um dia, o Brasil possa expor em suas cidades este outdoor que vi nas ruas de Havana: "A cada ano, 80 mil crianças do mundo morrem de doenças facilmente tratáveis. Nenhuma delas é cubana”.

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Cuba tem uma população de 11 milhões 250 mil habitantes (2011).
  1. O Brasil tem 196 milhões 700 mil habitantes .
  2. Cuba teria 25 faculdades de medicina. Em 2012, Cuba formou mais 11 mil novos médicos, os quais completaram sua formação de seis anos em faculdades de medicina reconhecidas pela excelência no ensino.(http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/23324/cuba+a+ilha+da+saude.shtml)
  3. O Brasil tem 188 cursos de medicina cadastrados no MEC, até 2012. Comparando com o cenário internacional, verifica-se que a China, com mais de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes, possui 150 cursos de Medicina. Os Estados Unidos, com população de mais de 300 milhões, contam com 131 faculdades de Medicina. (http://www.institutosalus.com/noticias/medicina/numero-de-cursos-de-medicina-no-brasil-cresce-82-em-duas-decadas)
  4. A cada ano no Brasil quase 13 mil alunos se formam em medicina segundo o Ministério da Educação. (http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/12/treze-mil-medicos-sao-diplomados-ao-ano-mas-faltam-profissionais.html
Cuba tem uma população dezessete vezes e meia menor que a do Brasil e forma proporcionalmente vinte vezes mais médicos por ano.


 
25/05/2013 


Cuba rebate críticas à formação de médicos

País tem 25 faculdades públicas que recebem estudantes de 113 países, inclusive Brasil

 

               
Agência Brasil |                  
Agência Brasil



A polêmica gerada pela disposição do governo de contratar cerca de 6 mil médicos de Cuba para trabalhar na atenção primária à saúde nas regiões mais carentes do país é estimulada, entre outras razões, pela dúvida sobre a formação profissional deles. Mas o governo cubano rebate as dúvidas com números. Em Cuba, há 25 faculdades de medicina, todas públicas, e uma Escola Latino-Americana de Medicina, na qual estudam estrangeiros de 113 países, inclusive do Brasil.

A duração do curso de medicina em Cuba, a exemplo do Brasil, é seis anos em período integral, depois há mais três a quatro anos para especialização. Pelas regras do Ministério da Educação de Cuba, apenas os alunos que obtêm notas consideradas altas em uma espécie de vestibular e ao longo do ensino secundário são aceitos nas faculdades de medicina.
Defasagem: OMS critica baixo número de médicos por habitante no Brasil
Médicos cubanos que atuam no Brasil contam que, em Cuba, o estudante tem duas chances para ser aprovado em uma disciplina na faculdade: se ele for reprovado, é automaticamente desligado do curso. Na primeira etapa do curso, há aulas de biomédicas, ciências sociais, morfofisiologia e interdisciplinaridade.
Nas etapas seguintes do curso, os estudantes de medicina em Cuba têm aulas de anatomia patológica, genética médica, microbiologia, parasitologia, semiologia, informática e outras disciplinas. Segundo os médicos cubanos, não há diferença salarial entre os profissionais exceto pela formação – os que têm mestrado e doutorado podem ganhar mais.
De acordo com os profissionais cubanos, todos os estudantes de medicina passam o sexto ano do curso em período de internato, conhecendo as principais áreas de um hospital geral. A formação dos profissionais em Cuba é voltada para a chamada saúde da família: os médicos são clínicos gerais, mas com conhecimento em pediatria, pequenas cirurgias e até ginecologia e obstetrícia.
Porém, a possibilidade de contratar médicos cubanos gera críticas e ressalvas de profissionais brasileiros. Mas o governo brasileiro considera que a necessidade de profissionais e de garantia de saúde para toda a população brasileira deve prevalecer em relação às eventuais restrições aos estrangeiros.
No começo do ano, os prefeitos que assumiram os mandatos apresentaram ao governo federal uma série de demandas na área de saúde. Na relação dos pedidos apresentados pelos prefeitos estavam a dificuldade de atrair médicos para as áreas mais carentes, para as periferias das cidades e para o interior do país.
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2013-05-25/cuba-rebate-criticas-a-formacao-de-medicos.html



quarta, 01 de fevereiro de 2012
                   

Número de cursos de Medicina no Brasil cresce 82% em duas décadas


Uma consulta no site do Ministério da Educação (MEC) revela que existem, no Brasil, 188 cursos de Medicina cadastrados, em 2012. Até a década de 1950 havia 27 escolas médicas no país e, na década de 90, já eram 103. Em 2008 havia 175 cursos de medicina, dos quais 104 eram privados e 71 eram públicos.
Do total de cursos existentes em 2012, 39% (73 cursos) destes são oferecidos gratuitamente aos estudantes, por instituições públicas. Já 61% (115) dos cursos são oferecidos por instituições de ensino privadas. Em 2011, o CFM publicou dados semelhantes do perfil das escolas médicas do país.

Comparando com o cenário internacional, verifica-se que a China, com mais de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes, possui 150 cursos de Medicina. Os Estados Unidos, com população de mais de 300 milhões, contam com 131 faculdades de Medicina.

No Brasil, o que ocorreu na última década foi o crescimento muito maior no número de escolas médicas de caráter privado, em relação às públicas. Esse fato toma importância à medida que se relaciona a educação médica com o processo de mercantilização do ensino.

Pode-se dizer que o primeiro aumento considerável no número de cursos de Medicina ocorreu no período militar. De acordo com dados publicados na pesquisa Demografia Médica no Brasil, de 1960 a 1969 foram abertas 39 escolas médicas, 23 delas no Sudeste. Nessa época, a maioria dos cursos de Medicina funcionavam em faculdades públicas.

O salto na abertura de cursos de Medicina nos anos 1960 foi responsável pelo crescimento exponencial que se verifica no número de médicos a partir da década de 1970.

Em 1996 acontece um novo aumento no número de cursos de Medicina, sobretudo nas faculdades de caráter privado.

De 2000 a 2011, 77 escolas médicas foram inauguradas, em sua maioria particulares. Nesse período, a população brasileira aumentou apenas 12,3%.

Em relação à distribuição dos cursos de Medicina no Brasil, veja o cenário:

Estados em que há maior concentração dos cursos de Medicina: São Paulo (33 cursos); Minas Gerais (28); Rio de Janeiro (18); Paraná (12); Rio Grande do Sul (11); Santa Catarina (10). Portanto, as regiões sudeste e sul concentram a maior quantidade de cursos do país.
Ou seja, 45% das escolas médicas se concentram na região sudeste, o que gera maior oferta de egressos ao mercado de trabalho. Justamente essa região conta com maior número de médicos por habitante.

Estados que possuem número menor de cursos são: Bahia, Ceará e Paraíba (7 cursos em cada estado); Pernambuco e Espírito Santo (5); Distrito Federal, Pará, Piauí, Tocantins e Rondônia (4); Sergipe, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Goiás e Amazonas (3); Alagoas e Mato Grosso (2); Acre, Amapá e Roraima (1 curso cada estado).
Apesar de haver mais cursos nas regiões sudeste e sul, que são mais populosas, há distribuição desproporcional dos cursos de Medicina entre os estados brasileiros em relação ao número de habitantes de cada estado, de acordo com o senso do IBGE de 2009.

As entidades médicas e o governo devem estar atentos para o processo de mercantilização do ensino, fato que vem ocorrendo no ensino médico, assim como em outros cursos da área da saúde. Esse processo está relacionado com a abertura desenfreada de escolas médicas de origem privada. O motivo da preocupação é a queda na qualidade do ensino e, consequentemente, da competência técnica dos profissionais formados.

Em 2011, o MEC suspendeu 514 vagas oferecidas em 16 cursos de bacharelado em Medicina, todos em instituições privadas, que tiveram resultados insuficientes no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Os cursos são oferecidos por nove instituições de ensino de Minas Gerais, duas de Rondônia, e uma dos estados do Maranhão, Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins.

Essas ações realizadas pelo MEC são fundamentais, no sentido de limitar o número de vagas nos cursos de graduação em Medicina com baixa qualidade. O processo de mercantilização do ensino prejudica a qualidade dos cursos e do ensino médico, colocando em risco a saúde pública como um todo.
Fonte: Instituto Salus

http://www.institutosalus.com/noticias/medicina/numero-de-cursos-de-medicina-no-brasil-cresce-82-em-duas-decadas

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Mais que estupidez, houve crime

23/05/201311h16

Do UOL, em São Paulo  


"Mandei meu filho para a morte", diz pai de amigo de suspeito de ataque em Boston


Orange County Corrections Department/AP
Todashev era amigo de Tamerlan Tsarnaev
Todashev era amigo de Tamerlan Tsarnaev


O pai do imigrante tchetcheno morto na quarta-feira (22) por um agente federal quando era interrogado sobre suas ligações com o suspeito de participar do atentado à Maratona de Boston afirmou, nesta quinta (23), que "mandou seu filho para a morte" quando deixou o jovem ir viver nos Estados Unidos.
Ibragim Todashev, 27, era um lutador de MMA que havia treinado com Tamerlan Tsarnaev em Boston. Segundo o pai de Todashev, Abdul-Baki Todashev, o jovem fez amizade com o suspeito do atentado de Boston porque ambos eram tchetchenos e tinham interesses parecidos.
Todashev foi morto por um agente federal ao atacá-lo com uma faca durante o interrogatório, em Orlando, no Estado americano da Flórida. O jovem teria revelado que Tsarnaev, o mais velho dos irmãos de origem chechena acusados pelo atentado de 15 de abril, em Boston, que deixou três mortos e 264 feridos, havia participado de um triplo homicídio cometido em 2011.
À agência Associated Press,  Abdul-Baki Todashev contou que seu filho foi viver nos Estados Unidos depois de receber a oportunidade de estudar inglês em uma universidade americana. Para o pai, os Estados Unidos "pareciam ser o país mais seguro do mundo."
"Por causa da falta de leis na Tchetchênia, mandei meu filho aos Estados Unidos. Agora, penso em como trazer seu corpo de volta para casa", afirmou. "Acabei mandando meu próprio filho para a morte."
Todashev teria abandonado as artes marciais por causa de uma lesão e teria trabalhado em diversos empregos diferentes como motorista de um asilo, antes de se mudar para a Flórida no ano passado.
Segundo Abdul-Baki, seu filho tinha planos de visitar a família na Tchetchênia nesta semana, mas adiou a viagem a pedido do FBI. (Com AP)


 
Ou o FBI virou uma polícia de Sucupira ou suas desculpas nunca foram tão esfarrapadas. Dá para acreditar em sua última versão?


Mário Magalhães


O FBI, a Polícia Federal norte-americana comandada quase meio século pelo legendário J. Edgar Hoover, saiu-se ontem com mais uma história enrolada.
De acordo com a corporação, um agente seu matou a tiros um suspeito de participar do ataque à maratona de Boston. O atentado com explosivos tirou a vida de três pessoas, no dia 15 de abril.
O FBI alega que o suspeito, identificado como Ibragim Todashev, seria um lutador de MMA que teria partido para cima dos policiais que o interrogavam em casa.
Como o FBI teria procurado um lutador de MMA _teria de saber disso_ sem força suficiente para imobilizá-lo, em caso de reação?
Se ignorava que se tratava de um lutador, é de um vexame escandaloso.
Caso soubesse e o tivesse interrogado com efetivo limitado, também seria atitude estúpida.
Se matou um suspeito que poderia ter imobilizado, mais que estupidez, houve crime.
E se o sujeito tivesse mesmo algo a ver com atentados terroristas, sua eliminação física prejudicou a investigação sobre a covardia criminosa em Boston e outros episódios.
Difícil acreditar na versão do FBI, apresentada nesta reportagem. Cheiro de cascata no ar.
A não ser que a PF dos EUA tenha virado uma polícia de Sucupira, a cidade fictícia e bagunçada criada por Dias Gomes em “O bem amado”. Para falar a verdade, acho que nem polícia Sucupira tinha.
(P.S.: no Twitter, Roberto Pereira lembra que Sucupira tinha polícia, sim. A delegada era vivida pela grande atriz Zilka Salaberry.)
 
  
           



22/05/2013


FBI mata homem na Flórida suspeito de ligação com atentado em Boston



Reuters
Jane Sutton - Em Miami



Um agente do FBI atirou e matou nesta quarta-feira (22) um homem da Flórida suspeito de ligação com o atentado na Maratona de Boston.
Segundo as autoridades, o suspeito estava sendo interrogado e inicialmente estava cooperando, mas foi morto a tiros após atacar o agente.
O jornal "Orlando Sentinel" disse que um amigo do homem morto o identificou como Ibragim Todashev, de 27 anos, morador de Orlando.
O amigo, Khusn Taramiv, disse ao jornal que Todashev estava sendo investigado como suspeito de participação nos atentados de Boston e conhecia Tamerlan Tsarnaev, suspeito de realizar o atentado, uma vez que ambos eram lutadores de artes marciais.
O porta-voz do FBI Dave Couvertier não confirmou a identidade do homem morto nem a eventual ligação dele com o atentado em Boston.
"No momento, estamos respondendo a um incidente com tiros envolvendo um agente especial do FBI", disse à Reuters por email. "O incidente ocorreu em Orlando, Flórida. O agente encontrou o suspeito durante a realização de suas funções oficiais. O suspeito está morto. Nós não temos mais detalhes neste momento."
Tsarnaev, de 26 anos, morreu em um tiroteio com a polícia. Seu irmão Dzhokhar Tsarnaev foi encontrado escondido em um barco em Watertown, nos arredores de Boston, quatro dias depois das explosões que mataram três pessoas e feriram outras 264 na linha de chegada da Maratona de Boston, em 15 de abril.
Dzhokhar Tsarnaev, de 19 anos, foi baleado na garganta antes de ser preso e está recebendo tratamento em um hospital da prisão. Ele enfrenta acusações que podem levar à pena de morte se for condenado.

terça-feira, 21 de maio de 2013

O boato nefasto da 'bolsa-prostituição'


 
 

 
 
http://www.observatoriodaimprensa.com.br./news/view/_ed747_ingenuidade_perigosa_nas_redes_sociais


Domingo, 21 de Maio de 2013
 

O boato nefasto da 'bolsa-prostituição'

 

Por Sergio da Motta e Albuquerque




A credulidade inocente de boa parte da população usuária das mídias sociais é um risco e um problema que ainda não foi suficientemente abordado pela imprensa. Uma postagem absurda em um blog (10/5) quase desconhecido espalhou-se pela blogosfera, pelo Facebook e o Twitter, e quase convenceu muita gente que o governo federal iria subsidiar garotas de programa em 2 mil reais ao mês. Por alguns dias, muita gente acreditou que a administração Dilma Rousseff iria pagar algum tipo de auxílio às profissionais do sexo.
A Rádio Criciúma (16/5) comentou o bizarro fato, mas não captou a malícia do autor da mentira publicada: “Mesmo a ‘notícia’ sendo totalmente descabida e o blog ser exclusivamente preenchido com textos de humor, muitos internautas compartilharam nas redes sociais, sem conferir a veracidade, causando revolta dos indignados – que também não procuraram se informar, com a suposta ajuda às garotas de programa. Foram tantas pessoas tomando a informação como verídica que levaram à ira a senadora petista Ana Rita (PT), do Espírito Santo”.
O problema é que o blogueiro atribuiu a proposta supostamente aprovada no Senado à senadora do PT, que desmentiu tudo e prometeu colocar a Polícia do Senado atrás do autor da falsa notícia. O diário Estado de Minas (16/5) e a Agência Senado (no mesmo dia) publicaram a notícia. O blogueiro desconhecido, que se identifica como “Joselito Müller, o homem do jornalismo destemido” permaneceu altaneiro e desafiador: “Podem processar que eu não tenho medo”, dizia “Joselito”. Ao mesmo tempo, desculpou-se à senadora, prometeu revelar seu nome e reconheceu o erro.
Sempre a manter o tom agressivo e desafiador: “Devo admitir, vá lá, que foi leviano de minha parte atribuir à parlamentar a autoria de um projeto inexistente. Minha conduta é passível de reparação, caso sua Excelência queira me processar e, no âmbito do processo, comprove que sofreu danos em função de meu humilde post. Redijo o presente não com escopo de me retratar, mas para expressar minha preocupação com o fato de que mentiras descabidas, redigidas em linguagem supostamente jornalística são verossímeis atualmente no Brasil. Isso é um sintoma de que algo vai mal na política nacional, e demonstra que representantes dos poderes da República vêm protagonizando atos capazes de deixar o povo estarrecido. Por isso qualquer absurdo se torna crível no Brasil de hoje em dia!”


Finge ser semianalfabeto
O blogueiro aproveitou a situação para atacar a atual administração, que segundo ele é a principal responsável pela disseminação de mentiras na web. Ele diz-se apartidário e anarquista, mas seu alvo invariavelmente é o PT nas sandices que publica. O homem é perigoso e mal intencionado. É, na realidade, um elemento nocivo ao trabalho de todos os blogueiros políticos sérios que existem no Brasil. Seu blog é um espaço para piadas e brincadeiras de péssimo gosto e inclinações fascistoides. E registra imensa disseminação a partir dele da informação falsa no Facebook e no Twitter.
Quem partilhou aquela imensidade de informação falsa na web agiu com ingenuidade perigosa. E acabou como piada para o blogueiro não-identificado, que debochou de todos que embarcaram em sua loucura. Postou insultos e deboches no Twitter sobre todos os que acreditaram nele. Chegou a enganar algumas rádios do interior do país e muitos e muitos outros blogueiros, além de publicações de pouca importância.
“Joselito” é uma invenção suspeita: esconde-se atrás de uma alcunha e de seu blog, que apresenta fotos falsas como sendo suas. A última usada foi a do falecido ator Warren Oates. O blog mostra ainda um homem apontando uma pistola em direção de quem lê e uma antiga ficha da censura dos tempos da ditadura militar. “Joselito” fez questão de afirmar no Twitter que “não é réu primário” e já cumpriu pena por “por homicídio e extorsão mediante sequestro com resultado de morte”, ameaçou. Ele intimida explicitamente quem lhe faz oposição, a menos que seja uma autoridade. Ele finge ser semianalfabeto, mas quem lê a fundo o que ele escreve vê que a coisa não é tão simples assim: ele conhece a lei, e parece usar um português vulgar como instrumento para esconder sua verdadeira identidade.


“Deficientes cognitivos”
Não é difícil estabelecer um perfil aproximado do “Joselito”:
>> Ele ataca todos os partidos políticos;
>> Proclama-se anarquista, mas isso não é compatível com suas ideias;
>> Tem uma agenda ultraconservadora e uma veia agressiva;
>> Parece também bem sustentado por gente mais poderosa do que o alcance de suas mentiras;
>> Dispara seu fel contra tudo e contra todos;
>> Usa a democracia para desacreditá-la;
>> Segue gente importante no Twitter. De todas as tendências políticas.
Seu perfil sugere conexões com a ultradireita e com os opositores antidemocratas de um governo democraticamente eleito e bem aceito pela população. Mas o homem pode muito bem ser um “franco-atirador” a operar sozinho. Pessoalmente, não acredito nisso, mas é uma possibilidade concreta.
Joselito desmentiu tudo (17/5), quando viu que a coisa estava a esquentar. Mas o fez em seus termos: entre o material publicável que encontrei ele chamou de “deficientes cognitivos” todos aqueles que acreditaram em sua postagem, e depois de desmentir a mesma sobre a senadora e seu suposto projeto de financiamento a prostituição, publicou uma série de links para publicações que fazem oposição sistemática ao governo, incluindo algumas que envolvem a senadora Ana Rita. O blogueiro quase sempre mira o PT em suas postagens.


Postagem maligna
A “experiência” iniciada por “Joselito Müller” demonstra que grande parte dos usuários das redes sociais contenta-se em ler a penas os títulos dos artigos. Depois, se aprovam os mesmos, partilham na mídia social. Mesmo não tendo tido qualquer contato com o conteúdo da postagem. Como foi o caso aqui relatado: a postagem falsa era passada adiante aparentemente sem qualquer verificação ou um mínimo de senso-comum. Principalmente no Facebook. É o que eu chamo, nas redes sociais, de “síndrome de incêndio australiano”: a coisa se alastra com uma velocidade tamanha que pouco há a ser feito. Mas também foi muito mais do que isto: foi uma tentativa de desacreditar as instituições democráticas, um governo eleito, a imprensa e o público incauto das redes sociais que não verifica a autenticidade do que lê e partilha na rede.
Postagens com as do blogueiro que se esconde atrás do nome “Joselito” são comuns na web. Ele mesmo confessou que não esperava tanta repercussão do post. O aumento das visitas em seu blog foi de 1.700% a partir da postagem sobre a suposta “bolsa-prostituição”, segundo a Alexa, o site da Amazon que faz a contagem de visitas e classificação hierárquica dos sites e blogs na web. Antes disso, suas estatísticas eram nem mesmo registradas pela controladora de estatísticas na rede. Também podemos suspeitar que uma postagem daquelas jamais seria tão popular sem a colaboração daqueles que querem a derrocada deste governo a qualquer custa e qualquer meio, seja ele qual for. O título era conveniente, e eles o partilharam na web. Sem ler o que estava escrito. O tiro acabou saindo pela culatra.
O “caso Joselito” serve como alerta contra a excessiva credulidade de boa parte dos internautas que não conferem nada do que lêem na web: se está escrito lá, em tom de notícia séria, então é verdade. Grande parte dos usuários das mídias sociais precisa mudar seu comportamento com relação ao que compartilha nas mídias sociais. O atual padrão de não ler (ou ler parcialmente) o conteúdo é irresponsável: nem tudo que é publicado lá é verdade, e a credulidade de alguns utentes pode ser manipulada para causar problemas de proporções inesperadas e danos de grande extensão a sociedade.
Se os cidadãos contemporâneos também são informadores hoje em dia, é necessário que comecem a comportar-se como gente de imprensa: tudo o que é lido e partilhado deve ser verificado. Não custa nada, não é difícil e com apenas alguns cliques uma mentira pode ser desmascarada facilmente. Em alguns casos não é preciso chegar a tanto: a mentira é tão óbvia que um pouco de bom senso basta. Joselito debochou do povo que acreditou nele. Chamou todos de “deficientes cognitivos”. Agora ficou sem apoio e marcado pelos que foram enganados e ofendidos, os que já desconfiaram desde o início, e aqueles que tomaram conhecimento do caso e condenaram sua postagem absurda e maligna.


Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor

Tortura no país começou antes da luta armada


http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2013/05/21/comissao-da-verdade-diz-que-tortura-no-pais-comecou-antes-da-luta-armada.htm

 


21/05/2013

        

Comissão da Verdade diz que tortura no país começou antes da luta armada

 

EFE Em Brasília

 
A Comissão da Verdade, criada pelo governo para investigar as violações aos direitos humanos durante a ditadura militar (1964-1985), afirmou nesta terça-feira (21) que os órgãos de repressão começaram a torturar muito antes de surgir a luta armada no país.
"A tortura começou a ser praticada nos quartéis em 1964. A tortura está na origem da ditadura militar. Ela ocorre antes da luta armada", afirmou a historiadora Heloísa Starling, uma das integrantes da Comissão, ao apresentar hoje em Brasília um balanço das atividades realizadas pelo organismo desde sua criação há um ano.

Documentos do Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) de São Paulo, órgão subordinado ao Dops (Departamento de Ordem Política Social), principal órgão de inteligência e repressão durante a ditadura militar, divulgados em 1º de abril, mostram que regimes autoritários ficharam figuras públicas como o ex-jogador Pelé, o cantor Roberto Carlos, os apresentadores Silvio Santos e Hebe Camargo e o escritor Monteiro Lobato. As fichas e prontuários podem ser consultadas no site "Memória Política e Resistência", vinculado ao Arquivo do Estado. Configura algumas personalidade fichadas pela ditadura.
Os integrantes da Comissão disseram ter analisado os documentos que demonstram que os pesquisadores políticos eram torturados desde 1964, ano do golpe militar que derrubou o então presidente João Goulart, apesar das leis de exceção que instituíram a repressão terem sido ditadas pelo regime militar em 1968.
O regime de exceção de 1968 foi uma suposta resposta da ditadura ao surgimento de grupos guerrilheiros que pegaram em armas e muitos militares justificaram as torturas como uma resposta à ação de "subversivos" e "terroristas" que queriam instalar um regime comunista no país.
"Em 1964 já é possível identificar centros de detenção e de tortura", afirmou Starling ao descartar que a violência institucional teve início apenas quatro anos depois e ao citar pelo menos 32 bases de torturadores em sete diferentes estados do país.

A integrante da Comissão disse igualmente que, pelos dados recolhidos até agora, é possível dizer que a torutra não era uma prática isolada, mas a "base" da repressão.

"A tortura não é praticada de forma pontual. Ela é a base da matriz da repressão da ditadura", afirmou.



O que é a comissão?

A Comissão Nacional da Verdade é um grupo formado por sete integrantes que irá "examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos" praticadas entre 1946 e 1988 e redigir um relatório oficial, em um período de dois anos.
Entre os objetivos estabelecidos na lei que cria a comissão está o de "identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionados à prática de violações de direitos humanos (...) e suas eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade".
Segundo os dados recopilados pela Comissão, 1969, um ano depois do Governo assumir poderes excepcionais e suspender garantias constitucionais, foi quando mais se generalizou a prática da tortura.
Segundo o balanço parcial apresentado nesta terça, a Comissão criada pela presidente Dilma Rousseff, uma militante de esquerda que foi detida e torturada pela ditadura, escutou até agora 268 testemunhos, entre os quais os de 37 militares acusados de abusos e os de 207 vítimas do regime.
O professor Paulo Sergio Pinheiro, coordenador da Comissão, assegurou que em um ano de trabalho o grupo descobriu a existência de 250 "estruturas de inteligência" que funcionavam nos ministérios e nos estabelecimentos públicos.

"É impressionante a capilaridade do serviço de inteligência em todo o território nacional", afirmou Pinheiro.

Pinheiro acrescentou que a Comissão, cujo mandato se estende até dezembro de 2014, recopilou provas que demonstram a prática de violência e de tortura durante a ditadura, incluindo documentos militares que admitem que até os próprios uniformizados que se opunham ao regime foram submetidos à repressão física que os deixou "deficientes".

Segundo Starling, a informação recopilada também permite dizer que o presidente da República e os ministros militares participavam da linha de comando dos organismos de repressão e tinham conhecimento do que ocorria nessas instituições.

Os membros da Comissão admitiram que em seu relatório final recomendarão algum tipo de medida que permita o processo dos torturadores, crime imprescritível para a legislação brasileira, embora não esclareceram se solicitarão a revisão da Lei de Anistia que favorece até agora os tais repressores.

"Os crimes de lesa-humanidade são imprescritíveis. Se temos esse conhecimento (da prática desses crimes), temos que recomendar que esses casos sejam submetidos à justiça", segundo a advogada Rosa Cardoso, outra integrante do grupo.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Brasil leiloado




20/05/2013
 

Brasil leiloado

Adriano Benayon *

 



 1. A 11ª rodada de licitações do petróleo, hoje, é novo marco na descida do Brasil para a condição de país de escravos.
 
2. São 289 blocos, em 11 Estados. As estimativas indicam que os blocos totalizariam, de 40 a 54 bilhões de barris in situ. Aplicado o fator de 25%, prevê-se produção de 10 a 13,5 bilhões de barris.
 
3. Muitos técnicos julgam provável haver mais petróleo nesses 289 blocos, todos em áreas fora do pré-sal, nas quais as reservas provadas até hoje totalizam 14 bilhões de barris. 
 
4.  A Agência Nacional (???) do Petróleo (ANP) declarou que nos blocos licitados deverão ser descobertos 19,1 bilhões de barris de petróleo e gás, que serão exportados.  O valor, na cotação atual, é US$ 2 trilhões.
 
5. Conforme a Lei 9.478/1997, outro marco da escravidão, ficaremos com royalties de 10% desse montante. Na média, os países produtores de petróleo recebem das transnacionais 80% do valor das receitas.
 
6. Peritos, como Fernando Siqueira e Paulo Metri, vão ao ponto: “a pergunta óbvia é ‘quem definiu que a exportação desse petróleo é a melhor opção para o Brasil’?”
 
7.  Com a concessão de 30 anos para a exploração, a ANP espera arrecadar R$ 1 bilhão (0,25% do valor dos blocos), quantia insuficiente para   reformar um estádio para a Copa, lembra o químico Roldão Simas. 
 
9. Na maioria dos países exportadores, suas empresas não dispõem de tecnologia para produzir petróleo. Por isso, necessitam recorrer às petroleiras transnacionais para extrair o petróleo do subsolo.
 
10. Nesses países as economias são pouco industrializadas. Faltam terras agricultáveis e suficiente dotação de água. Portanto, precisam exportar petróleo para importar alimentos, bens de consumo, equipamentos, serviços etc.  Não é o caso do Brasil, cujo interesse é preservar esse recurso estratégico, tendente à escassez.
 
11. As petroleiras transnacionais vão importar equipamentos, componentes, insumos e serviços técnicos. Vão superfaturar os preços dessas importações e subfaturar os da exportação, além de omitir as reais quantidades exportadas.
 
12. Ademais, remeterão lucros oficiais e disfarçados. Assim, no líquido,  resultará  pouca ou nenhuma melhora do saldo das transações correntes, cujo déficit no Brasil, em aceleração, já é dos mais altos do mundo, em decorrência principalmente da desindustrialização e da desnacionalização da economia.
 
13. Então para que doar um recurso valioso e estratégico, depauperando as reservas (mineral não dá duas safras), em troca de royalties de apenas 1/10 das receitas da exportação declarada pelas transnacionais.
 
14. Que motivos, pois, afora abissal incompetência e/ou extrema corrupção, fariam as “autoridades responsáveis”, presentear as empresas estrangeiras com 90% das receitas?  Trata-se de negócio ou de negociata?
 
15.  Ainda por cima, a Lei Kandir, outro marco da escravidão, isenta a  exportação de minérios de ICMS, PIS/Cofins e CIDE, cuja arrecadação propiciaria 30% das receitas. 
 
16. Então, para que exportar petróleo bruto, com baixo valor agregado?  E por que não investir no refino e na petroquímica, para o mercado interno e para exportação?
 
17. Não faltam recursos públicos para financiar investimentos da Petrobrás (que os está buscando no exterior: mais endividamento). Porém, além de não os prover, o governo federal a descapitaliza, forçando-a importar derivados  e a vendê-los aqui por preço igual ao da produção interna, congelado, por alguns anos, para deter a inflação.
 
18. Assim, a política entreguista leva a Petrobrás a reduzir, em relação às rodadas anteriores, a proporção de blocos que vai adquirir. Desta vez, ela se est, em geral, associando às estrangeiras.
 
19. A ANP ignora deliberadamente o desastre causado pela transnacional estadunidense  Chevron. em novembro de 2011   (poço de Campo do Frade, na Bacia de Campos). Ora, a própria ANP, reconheceu que  o brutal vazamento  de 3.700 barris de óleo poderia ter sido evitado, se a Chevron tivesse observado as regras de segurança.
 
20. Os impactos ambientais e sociais altamente danosos,  ligados à  exploração de petróleo, impeliram organizações da sociedade civil a requerer ao Judiciário a suspensão da 11ª Rodada.
 
21A pressão da sociedade terá de ser forte, ir além das manifestações, haja vista o histórico do Judiciário, semelhante aos do Executivo e do Legislativo. E, se não se detiver a fúria entreguista, a ANP, esta fará, ainda este ano, leilão para a área do Pré-Sal, além da 12ª rodada para outras áreas.
 
22.  Uma das muitas ações ajuizadas, em 1997, para anular o leilão de privatização da Vale do Rio Doce, teve ganho de causa, em 2005, na 2ª instância, havendo o Tribunal Regional Federal de Brasília declarado fraudulento o leilão e anulado a privatização. Mas o BRADESCO recorreu, e, até hoje, o processo segue engavetado no STJ.
 
23. De resto, os  leilões são inconstitucionais, porquanto a Constituição de 1988 prescreve que o petróleo pertence à União, e não há norma explícita na CF quanto a concessões em matéria de petróleo.
 
24.  Prejuízos adicionais para o País decorrem de as multinacionais  usarem mão-de-obra terceirizada e padrões de emprego inferiores aos da Petrobrás.  Isso implica ínfima geração de renda para brasileiros e maior risco de acidentes e mortes.
 
25.  Fala-se de 47 empresas estrangeiras  habilitadas para o leilão e de 17 brasileiras, na maioria, dirigidas por testas-de-ferro.
 
26. Assinala Fernando Siqueira: “Além do cartel internacional, vão participar dos leilões as estrangeiras da Associação dos Produtores Independentes do Petróleo, formada por  18 empresas. Destas  14 são multinacionais, inclusive a El Paso, uma das sete irmãs.
 
27. Paulo Metri: “As empresas estrangeiras não querem construir refinarias no Brasil para exportarem derivados. Querem declaradamente exportar petróleo in natura.”
 
28. Ele esclarece que os blocos  marítimos se têm mostrado os mais produtivos e os que exigem mais investimentos, 80% dos quais são para as  plataformas. 
 
29. Ainda Metri:  “A 1ª rodada aconteceu em 1999 e, desde então, empresas estrangeiras arrematam blocos e nunca compram plataformas no Brasil.  Tampouco encomendam desenvolvimento tecnológico aqui. Só quem compra plataforma e desenvolve tecnologia no Brasil é a Petrobras.  A maior parte da geração de empregos se dá com a encomenda da plataforma. Quem aqui não compra, quase não gera emprego.
 
30. A Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)  esclarece que  essa é a única empresa que maximiza a compra materiais e equipamentos no País, propicia o desenvolvimento tecnológico e contrata técnicos brasileiros.
 
31. Ademais, segundo a AEPET, além de os blocos ora licitados terem sido descobertos pela Petrobrás, também o foram os do pré-sal.
 
32. Após o entreguismo monolítico do período FHC, em que, inclusive foi criada a ANP, e nela instalados diretoria e quadros técnicos, vinculados à oligarquia financeira anglo-americana, o geólogo Guilherme Estrela foi nomeado diretor de exploração da Petrobrás no governo Lula.
 
33. Então foram descobertos, de  janeiro a agosto de 2003, 6 bilhões de barris dos 14 bilhões das reservas provadas atuais. Estrela reativou também o grupo de pesquisadores do pré-sal,  e, em 2006, teve início a perfuração nessa província, com êxito em 2007, obtendo-se reserva de mais de 100 bilhões de barris.
 
34. Lula fizera aprovar a Lei 12351/2010 para capitalizar a Petrobrás através de cessão onerosa, através da qual  a União cedeu um conjunto de blocos onde se esperava encontrar 5 bilhões de barris. A Petrobras pagou com títulos do Governo, e este comprou ações da Petrobrás com esses títulos.
 
35.  A Petrobrás então descobriu o campo de Franco, com reservas de 6 a 9 bilhões de barris e o de Libra, onde há reserva de 15 bilhões de barris. Conforme a nova lei, a ANP pode contratar com a Petrobrás, sem licitação, a exploração das áreas consideradas estratégicas. 
 
36. Entretanto, intervindo, mais uma vez, contra o Brasil, a ANP  retirou  o campo de  Libra da cessão onerosa à Petrobrás e quer leiloá-lo. Segundo Siqueira, a diretora da ANP, perguntada sobre as razões disso, não respondeu e diz que esse bloco será “o grande atrativo” do próximo leilão.
 
37. As potências imperiais, com suas fundações e instituições e com as locais, igualmente movidas a dinheiro, têm incutido na maioria dos brasileiros a mentalidade dos escravos, inclusive através da destruição dos valores, da educação  e da cultura, enquanto os acostuma a tolerar condições cada vez mais degradantes de vida.
 
38. Isso ocorre de forma intensa e crescente, desde agosto de 1954.  Assim, o desafio para quem deseja dignidade para si e para seus compatriotas, é desenraizar aquela mentalidade. Isso exige grandes e persistentes esforços, e tem de ser feito em menos tempo que os 40 anos  passados por Moisés, no deserto, a transformar a mente de seus seguidores.
 
 
* - Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.