sábado, 13 de abril de 2013

O fado fúnebre que ensurdece o Brasil

 
Sábado, 13 de Abril de 2013
 


O fado fúnebre que ensurdece o Brasil


Por Saul Leblon



A ortodoxia está matando nações na Europa. O desemprego passa de 17 milhões de pessoas.

Na Espanha, 26% da infância encontra-se enredada na teia da pobreza
, que avança sobre a 4ª maior economia do euro.

O jornal 'El Pais' informa que os bancos de alimentos já não dão conta de atender a demanda: estima-se que 1,3 milhão de espanhóis dependem de ajuda para comer.
A cada 15 minutos uma família é despejada em Madrid, Barcelona ou em algum outro ponto do país .

Dizer Estado mínimo é suavizar a montanha desordenada de ruínas acumuladas nas diferentes dimensões da vida coletiva.

O que restará depois dos sucessivos e inalcançáveis ajustes serão talvez protetorados, enclaves, colônias.

Resíduos de nações expropriadas pelos mercados.

O que é uma Nação sem o patrimônio comum que a unifica?

O uso de viaturas em muitas repartições portuguesas passou a depender da vaquinha dos funcionários para a gasolina.

Papel higiênico deve ser trazido de casa
(
leia a coluna de Flávio Aguiar).

Tatcher, o símbolo disso tudo, será enterrada dia 17 próximo.

A lógica que encarnou enfrenta o seu crepúsculo, mas usa as próprias cinzas para tornar irrespirável a vida da sociedade, que ainda não se apoderou de novas referências históricas (sobre esse paradoxo, leia o blog do Emir; nesta pág.)

No Brasil, lamenta-se que Dilma não seja a ‘ladra do copo de leite', a exemplo da ‘Dama de Ferro', que subtraiu a merenda da escola pública inglesa, em 1970, como ministra da educação.
O governo se recusa a trazer a crise para dentro do país.

Inconsolável, o rentismo exige o ‘laissez-passer' para legitimar a ‘purga' que inveja na Europa.

Desdenha-se do ‘efeito provisório' das linhas de passagem erguidas para atravessar um cerco que se aperta.

Como se o estado de exceção da desordem neoliberal pudesse ser enfrentado com as ferramentas da rotina.

De cada três palavras difundidas pelo noticiário uma é juro. Colunistas se ressentem de demissões frescas.

Implora-se por números azedos para servir no café da manhã.

É preciso abrir espaços à incerteza no jantar.

Professores-banqueiros e candidatos à Presidência tem um prazo de validade contratado.

A crise deve aportar antes que o PAC, a reindustrialização do pré-sal e a indução do investimento surtam efeito.

Um centímetro de chão sólido atrapalharia tudo.

Abengalados ora no quilo do tomate, ora na novena pervertida em prol da seca nos reservatórios, seu futuro pressupõe que o emprego, a casa, a comida, o salário e o crédito sejam tragados em uma gigantesca restauração rentista, que solde a economia ao comboio do abismo.

Do governo o que se exige é que engrosse o fado fúnebre, a adestrar o país para ser um imenso Portugal.

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