sábado, 12 de maio de 2012

Ex-diretora executiva de Murdoch abre a boca e emudece governo britânico

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Depoimento de ex-executiva de Murdoch complica Cameron 

 

Marcelo Justo - Londres


Londres - A ex-diretora executiva da News Corp, Rebekah Brooks, abriu a boca e emudeceu o governo britânico. A ex-braço direito na Grã Bretanha de Ruppert Murdoch e seu império multidiático revelou ante a Comissão Leveson que seu vínculo com o ex-primeiro ministro David Cameron incluía frequentes trocas de mensagens de texto e encontros natalinos em meio à polêmica desatada pela oferta da News Corp para adquirir 69% do pacote acionário da cadeia televisiva BSkyB.

A Comissão Leveson teve servido na bandeja um dos melhores pratos desde que começou sua investigação sobre a relação entre os meios de comunicação e o mundo político britânico, em 2011, a partir do escândalo das escutas telefônicas. Um e-mail enviado por um lobista do grupo Murdoch a Brooks, no dia 27 de junho de 2011, revelou que o atribulado ministro da Cultura Jeremy Hunt queria que a News Corp o “orientasse” em sua própria investigação sobre as escutas. “Ele me pediu que eu o assessorasse privadamente nas próximas semanas para orientar sua posição e a de 10 Downing Street (a residência oficial do primeiro ministro) sobre as escutas”, escreveu o lobista Frederic Michel.

Esta investigação era chave para a decisão que o governo devia adotar sobre se a oferta da News Corp para adquirir a BSkyB comprometia a liberdade e a pluralidade informativa. Segundo o email do lobista Frederic Michel, a decisão governamental já estava tomada. “JH (Jeremy Hunt) já deu o OK porque acredita que a escuta telefônica não tem nada a ver com o tema da pluralidade informativa”, escreveu ele a Brooks. O governo havia dito que seria um árbitro imparcial da oferta da News Corp. Na prática, informava ao grupo Murdoch com antecipação os passos que daria.

No dia 30 de junho – tal como havia antecipado o lobista no email – Jeremy Hunt declarou no Parlamento que “embora as alegações sobre as escutas telefônicas sejam muito sérias, elas não têm nenhuma relação com a aquisição da BskyB”. Uma semana depois, ocorreu a explosão que faria ruir todo o edifício. O jornal “The Guardian” publicou que o News of The World havia interceptado uma mensagem de voz de Milly Dowler, uma menina de 13 anos sequestrada e assassinada. A revelação foi devastadora para o grupo Murdoch que, em poucas semanas, fechou o News of The World, abandonou sua tentativa de adquirir todo o pacote acionário da BSkyB e aceitou a renúncia de Rebekah Brooks como diretora da News International, o braço britânico do grupo Murdoch.

A proximidade do grupo com o governo ficou evidenciada de modo menos complexo e mais reconhecível coletivamente, com as mensagens de texto que Brooks trocou com Cameron. Brooks negou informações que circularam durante a semana sobre uma troca de 12 mensagens de texto por dia, mas reconheceu que durante a campanha Cameron lhe enviada algumas mensagens semanas. “A maioria tinha a ver com questões organizativas, com temas sociais, com algum comentário pessoal sobre um debate televisivo”, disse Brooks.

Mais sugestivo ainda é o modo como o primeiro-ministro assinava suas mensagens: LOL. Cameron, pouco afeito à arte das mensagens de texto, pensava que LOL queria dizer Lots of Love, despedida muito carinhosa para amigos muito próximos. Na verdade, LOL é uma mensagem juvenil extremamente informal, que surgiu com as novas tecnologias para dizer laugh out loud (Ou seja, “ria de tudo isso que estou escrevendo). Quando Brooks esclareceu o ponto, Cameron deixou de assinar LOL, mas não se esqueceu de enviar a Rebekah uma mensagem de apoio logo depois que ela renunciou ao posto de diretora executiva da News International.

Mais substancial e comprometedor foram os três encontros que o primeiro ministro manteve com Brooks durante o Natal de 2010 quando o governo tinha acabado de substituir do comando da investigação sobre a compra da BSkyB o ministro de empresas, o liberal democrata Vince Cable, um declarado adversário de Murdoch, colocando em seu lugar Jeremy Hunt, um aliado de Murdoch. O primeiro-ministro assinalou que em nenhum momento havia feito algo “incorreto” nestes encontros, algo que também foi enfatizado por Brooks na Comissão. “Nunca tive uma conversa para influenciar o curso de ação do governo”, assinalou a ex-executiva da News International. Mas o momento em que se deram esses encontros, somado ao fato de que Cameron nomeara como seu chefe de imprensa a outro personagem chave do grupo Murdoch, o ex-editor de News of the World, Andy Coulson, hoje livre sob fiança pelo escândalo das escutas, põe sob suspeita o critério, as decisões e os motivos de fundo do primeiro ministro.

Tradução: Katarina Peixoto

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