quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Psiquiatra entrega os segredos sujos da profissão

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Psiquiatra entrega os segredos sujos da profissão


por Heloisa Villela, de Washington

Li, de ontem para hoje, um livro muito interessante. Não é lançamento deste ano. Ele foi publicado em maio de 2010. Mas é muito atual. Unhinged, do doutor Daniel Carlat, é um relato muito honesto de um profissional que viveu as mudanças da psiquiatria norte-americana no dia-a-dia.  O médico acabou transformando sua prática e a relação com os pacientes depois de se ver questionado por alguns deles e por um punhado de colegas.
O doutor Carlat também teve suas brigas com a depressão. A mãe tinha problemas sérios e se suicidou quando ele saiu de casa para cursar a universidade. Formado em psiquiatria, Daniel Carlat começou a atender os pacientes. Como conta, aprendeu a usar o livro de diagnósticos da profissão (atualmente o Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders-IV) e a receitar os remédios. Depressão, bipolaridade, alguns casos de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade… Enquanto se especializava no Hospital de Massachussets, foi reparando na relação estreita entre os psiquiatras e os representantes da indústria farmacêutica. Vendedores fazem todo tipo de salamaleque, oferecem agrados, presentes e jantares, para seduzir os donos do bloquinho de receitas. Antes de mais nada, é bom deixar claro: o doutor Carlat receita remédios a seus pacientes até hoje. Acredita que a profissão precisa de todos os instrumentos disponíveis para aliviar o sofrimento de quem procura ajuda.
Mas o que ele viu, e fez, ao longo dos anos foi bem mais que isso. Ele próprio foi contratado por uma empresa fabricante de remédios para depressão para dar palestras em clinicas e hospitais. Reuniu médicos em almoços e destacou as vantagens de um remédio (o da empresa que pagava pelas palestras, claro) em comparação a outros. O doutor Carlat confessa que escondeu dados e ressaltou o que havia de melhor nas pesquisas, sempre do ponto de vista da empresa-patroa. Quando ele começou a ser um pouco mais honesto, perdeu a boquinha.
O autor destaca que com certeza existem diferenças entre os remédios usados na psiquiatria. Por exemplo, se o paciente está sofrendo por causa da depressão e ainda por cima está emagrecendo muito, é melhor receitar um remédio que provoca ganho de peso como efeito colateral. Mas, pra quem já pesa mais do que deve, procura outro. Existem diferentes categorias de antidepressivos, mas em cada categoria não existe diferença notável entre as drogas. O doutor Carlin pode receitar um ou outro remédio como primeira tentativa para um paciente, e escolher outro para um segundo. Como ninguém sabe, exatamente, até hoje, porque um remédio aparentemente funciona para uma pessoa, em determinado momento, e não para outra, tudo não passa mesmo de tentativa e erro. Tenta-se um remédio e observam-se as consequências. Se vai bem, ótimo. Caso contrário, tenta-se outro.
Mas o que realmente impressiona, no livro, é a descrição nua e crua que o autor faz da forma como a indústria farmacêutica opera para promover seus produtos: como esconde dados, manipula resultados e como a FDA (Food and Drug Administration, agência federal encarregada de vigiar a qualidade dos remédios) é frouxa nas exigências, além de permitir abusos. No livro, o doutor Carlin expõe a promiscuidade entre psiquiatras e a indústria farmacêutica, os que ganham muito dinheiro promovendo remédios e repetindo dados maquiados, os que simplesmente assinam “artigos cientificos” sem ler, sabendo que eles foram escritos, na verdade, pela própria indústria farmacêutica, e a grande maioria dos profissionais que se limita a receber o paciente, fazer o questionário de rotina e receitar remédios, sem se preocupar com o conhecimento mais aprofundado dos problemas do paciente… Foi o que ele fez durante anos. Ele explica: não se ganha dinheiro de outra forma. Receber um paciente por 45 ou 50 minutos é prejuízo na certa. Em 15 minutos o questionário padrão está respondido, o remédio receitado e o próximo paciente já está dentro do consultório.
Quando mudou a prática, depois de tudo que testemunhou, o doutor Carlat começou a ver melhores resultados na saúde dos pacientes. Hoje, ele usa uma combinação de remédios e terapia. Diz que a psiquiatria norte-americana está em crise. Crise de credibilidade, por causa do casamento com a indústria farmacêutica; com a imagem distorcida, por vender a ideia de que psiquiatria é uma ciência que tem base biológica, por insistir que depressão, transtorno bipolar e outras doenças são provocadas por desequilíbrios químicos no cérebro, ideia que se tornou popular.
O doutor Carlin até acha que um dia a Ciência talvez consiga comprovar essa teoria e explicar exatamente como tudo acontece. Mas sabe — e deixou claro no livro — que até hoje é tudo tentativa e erro. O autor diz que a profissão precisa ser totalmente reestruturada. O  foco exclusivo na farmacologia, em detrimento de outras técnicas, tem que ser revisto. Ele acha que treinar os profissionais dentro da escola de medicina exacerba a ênfase na visão biomédica dos problemas mentais. Toma tempo demais com todo o aprendizado necessário para exercer a medicina e totalmente desnecessário para exercer a psiquiatria. Tempo que, segundo ele, deveria ser empregado ensinando outros tipos de psicoterapia: terapias em família, de grupo, avaliações neuropsicológicas e uso do apoio comunitário para tratamento das doenças mentais crônicas. Sem falar, é claro, no restabelecimento dos padrões éticos na relação entre profissionais do ramo e a indústria farmacêutica.


Droga inovadora para diarreia sofre com desinteresse

Karl-Josef Hildenbrand - 1.jul.2007/DPA

Ferid Murad, cientista americano ganhador do Nobel

CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL A LINDAU

Premiado em 1998 com o Nobel, por descobrir junto com outros dois cientistas um princípio que possibilitou o desenvolvimento de drogas inovadoras, como o Viagra, o farmacologista americano Ferid Murad está à frente de novas pesquisas com células-tronco, câncer e diarreia. Murad e os colegas Robert Furchgott e Louis Ignarro demonstraram como o óxido nítrico (NO) transmite sinais pelo corpo, bem como o papel da substância no controle do sistema circulatório. Até então não se sabia que um gás produzido por uma célula atravessa sua membrana e regula outras células.
A descoberta teve aplicações no tratamento de doenças cardiovasculares, de infecções generalizadas, do câncer e até mesmo da impotência. Medicamentos à base de NO podem auxiliar no tratamento da aterosclerose (endurecimento das artérias) e da hipertensão por favorecerem o relaxamento dos vasos.
"Ninguém está interessado no Terceiro Mundo", reclamou Murad, 75, referindo-se às dificuldades de obter financiamento para uma droga que promete alterar o tratamento da diarreia.
Ele também tem um lado empreendedor. Hoje é sócio de sete laboratórios farmacêuticos na China e em Taiwan. Mas diz que ainda se diverte fazendo pesquisa. "Fazer um experimento e encontrar a resposta, ser a única pessoa do mundo a ter essa resposta, é uma experiência muito emocionante."
A seguir, trechos da entrevista que deu à Folha durante encontro com premiados do Nobel, que termina hoje em Lindau (Alemanha).

 
PRÊMIO NOBEL
Alguns amigos já tinham me alertado de que o meu nome estava na lista, mas eu não estava muito certo de que pudesse levar o Nobel. Afinal, as minhas descobertas já estavam consolidadas dez anos antes.  Eram 4h da manhã quando a secretária do prêmio me ligou dizendo que era um dos vencedores. Quando ligam para você às 4h da manhã, você sempre pensa que alguém da família está em apuros. Quando desliguei o telefone, ainda atordoado, minha mulher estava na escada perguntando "O que aconteceu, o que aconteceu?". E respondi: "Ganhei o Nobel".

O INÍCIO
Não venho de uma família de médicos. Meu pai veio da Albânia e montou um restaurante nos Estados Unidos. Minha mãe, americana, fugiu com ele quando tinha 17 anos. Sempre fui um bom estudante. Acho que a educação é a única coisa que realmente pode mudar sua vida. Ela aumenta a qualidade de vida e lhe dá mais e mais oportunidades. Sem educação, não há oportunidades. Sempre gostei de ciência e, por isso, me tornei médico e pesquisador. Você não consegue fazer medicina muito bem se não conhece os fundamentos do laboratório. Penso que você precisa tentar fazer as duas coisas. Muitos discordam de mim, mas não abro mão disso.

NOVAS PESQUISAS
Estou trabalhando com três linhas de pesquisa agora: células-tronco, câncer e bactérias que provocam a diarreia. Penso que há muitas oportunidades nessas áreas para o desenvolvimento de novas drogas.
Há cinco anos, estamos desenvolvendo uma nova droga que pode bloquear o ciclo de reprodução de uma bactéria que provoca a diarreia. Nós ainda não sabemos exatamente qual é o mecanismo disso, mas pensamos que poderá ser uma droga importante especialmente para os países em desenvolvimento. No entanto, precisamos de dinheiro para produzi-la. E ninguém está muito interessado no Terceiro Mundo.

CONFLITOS DE INTERESSE
Já supervisionei pesquisas da indústria farmacêutica e agora sou sócio de sete companhias do ramo em Taiwan e na China. Também sou consultor de várias companhias, inclusive de cosméticos, para a produção de novos materiais nutritivos para a pele e para o corpo. Minha especialidade é descobrir novas drogas e desenvolvê-las. Não vejo conflito em atuar dessa maneira. Meu objetivo é fazer ciência e ajudar as pessoas. Mas temos de ser bem cautelosos, declarar os conflitos de interesses nas publicações, nas conferências e para a universidade em que você trabalha.

EMPREENDEDORISMO
Para mim, a transição entre a vida de cientista e a de empreendedor foi fácil. Sempre fui muito curioso. Uma pessoa não pode fazer tudo, senão comete muitos erros. Você precisa da ajuda de outras pessoas. Para uma companhia funcionar, você precisa de bons cientistas e de um bom time de finanças e administração. Você precisa confiar em outras pessoas para poder trabalhar junto com elas. Eu me divirto fazendo pesquisa de alto risco, investimentos de alto risco. Às vezes, acabo errando.

RELIGIÃO
Estive em Jerusalém algumas vezes e em Istambul uma vez. São cidades muito religiosas, mas as pessoas estão felizes e se dão bem. Acho que às vezes os políticos abusam dessa fé das pessoas para justificar suas decisões.
Meu pai era muçulmano, minha mãe era batista. Eu pertenço à Igreja Metodista, minha mulher é presbiteriana. Duas das minhas filhas se casaram com judeus, outras duas se casaram com católicos. Todos convivem muito bem com suas crenças.

VIDA APÓS O PRÊMIO NOBEL
O prêmio Nobel me deu muitas oportunidades para viajar ao redor do mundo. Recebo muitos convites para dar palestras em todo o mundo. Eu costumo dizer: sim, ganhamos o Nobel, mas não somos diferentes dos demais. Somos pessoas que trabalharam e treinaram muito e que foram muito pacientes para chegar aonde chegaram. E que adoram e se divertem fazendo pesquisa. Fazer um experimento e encontrar a resposta, ser a única pessoa do mundo a ter essa resposta, é uma experiência muito emocionante.
FERID MURAD

NASCIMENTO
14 de setembro de 1936, em Indiana (EUA)

FORMAÇÃO
Graduação em medicina e doutorado em farmacologia na Universidade Case Western Reserve, em Cleveland (EUA)

NOBEL
Ganhador do prêmio em 1998 por estudos sobre o óxido nítrico, que possibilitou o desenvolvimento de drogas contra a impotência

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