quinta-feira, 28 de julho de 2011

Após morte sob tortura, Merlino teve membros decepados por caminhão

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São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2011


Ex-presos reforçam tese de que jornalista morreu após tortura

FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO

Seis presos políticos da ditadura militar (1964-1985) apresentaram à Justiça relatos que reforçam a tese de que o jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino foi torturado e morto quando estava sob custódia do DOI-Codi de São Paulo -órgão repressor do regime- em 1971.
Os depoimentos foram feitos ontem na audiência da ação de indenização por danos morais movida pela família de Merlino contra o ex-comandante do DOI-Codi, o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de chefiar sessões de tortura no local.
Merlino militava no POC (Partido Operário Comunista) quando foi preso por agentes do órgão repressor, em 15 de julho de 1971. No dia 20 de julho, a família do jornalista recebeu a notícia de que ele estava morto.
Documento oficial apontou que Merlino, no dia anterior, "ao fugir da escolta que o levava para Porto Alegre (RS) na estrada BR-116, foi atropelado e, em consequência dos ferimentos, faleceu", versão contestada por familiares do jornalista.
Ontem, em São Paulo, foram ouvidas seis testemunhas de acusação.
Segundo o advogado da família de Merlino, Fábio Konder Comparato, os depoimentos permitiram concluir que o jornalista "foi torturado até aparecer uma gangrena nas duas pernas".
"Ele estava absolutamente sem condições de locomoção quando foi transferido e, a partir dessa transferência, para não se sabe onde, talvez o hospital militar, ele veio a falecer", disse Comparato.
Segundo o advogado, os relatos indicaram que Ustra "provavelmente torturou em pessoa Merlino".
Um dos depoentes afirmou que ouviu de um policial que "passaram por cima do cadáver de Merlino com um caminhão várias vezes até decepar vários membros dele", disse o advogado.
O ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos Paulo Vanucchi foi um dos ouvidos ontem.
Agora serão convocadas as testemunhas de defesa. Os advogados de Ustra pediram o testemunho do senador José Sarney (PMDB-AP) para falar sobre a Lei de Anistia.
A assessoria do senador disse, porém, que o pedido é uma "farsa" da defesa para atrasar o processo.

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