terça-feira, 24 de maio de 2011

Pimenta Neves e a cumplicidade da mídia

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terça-feira, 24 de maio de 2011

Pimenta Neves e a cumplicidade da mídia

 
Por Altamiro Borges

Finalmente, o ex-diretor de redação do Estadão, Antonio Pimenta Neves, está preso – mas não se sabe se por muito tempo, já que no Brasil só ladrão de galinha fica na cadeia. Nesta terça-feira, agentes da Divisão de Captura da Polícia Civil de São Paulo detiveram, em casa, o ex-poderoso jornalista.

Depois de mais de dez anos em liberdade, vivendo em sua mansão de 900 metros quadrados na zona sul da capital paulista, o assassino confesso da também jornalista Sandra Gomide foi levado, sem algemas, para a cadeia. A ordem de prisão foi expedida pelos ministros da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinaram o cumprimento da pena de 15 anos de reclusão, “inicialmente em regime fechado”.

Impunidade dos ricos e famosos

Em agosto de 2000, o badalado jornalista deu dois tiros na ex-namorada pelas costas num haras em Ibiúna, no interior paulista. Ele inclusive confessou o crime. Sandra Gomide conheceu Pimenta Neves, 30 anos mais velho, em 1996. Depois que o namoro terminou, ele não se conformou e passou a persegui-la, até matá-la. Em maio de 2006, foi condenado a 19 anos de prisão, mas conseguiu habeas corpus e ficou em liberdade.

O caso é uma das aberrações da Justiça. Segundo o ministro Celso de Mello, do STF, “o jornalista valeu-se de todos os meios recursais postos à disposição dele. Enfim, é chegado o momento de cumprir a pena”. Já a ministra Ellen Gracie disse estranhar a lentidão da Justiça. “Como justificar que, num delito cometido em 2000, até hoje não cumpre pena o acusado?”. Outros ministros do STF também choraram o leite derramado!

Omissão criminosa da imprensa

Vários fatores explicam a impunidade do ex-diretor de redação do jornal O Estado de S.Paulo. O principal é que os ricos e famosos não vão para a cadeia no país. Já uma segunda explicação revela a cumplicidade da própria mídia hegemônica. Ela que adora explorar os escândalos, para aumentar a sua tiragem e audiência, sempre protege os poderosos. Nestes longos dez anos, ela evitou destacar o delicado caso Pimenta Neves.

Como apontou Luciano Martins Costa, num artigo de agosto passado no sítio do Observatório da Imprensa, a mídia sempre procurou “esquecer o crime”. Neste sentido, a sua omissão foi também criminosa – em especial, do jornal Estadão. Ele lembra que quando Sandra Gomide rompeu o namoro, o poderoso diretor de redação a demitiu do cargo de editora de economia do Estadão, para o qual a havia promovido.

Silêncio dos "calunistas"

Pimenta Neves “passou a persegui-la, ameaçando com retaliações qualquer empresa que a contratasse”. Ele chegou a invadir o apartamento da jornalista, que registrou o fato em boletim de ocorrência. “Segundo um ex-repórter do Estadão, Pimenta costumava exibir uma arma, emprestada por um amigo publicitário, e chegou a dizer a diretores do jornal que pretendia cometer um assassinato”. A diretoria do Estadão nunca conteve seu poderoso diretor. Depois do assassinato, ainda tentou protegê-lo do noticiário.

A mesma cumplicidade se deu em outros veículos. “Nenhum desses cronistas e articulistas que vociferam contra qualquer coisa que se move se encheu de coragem para comentar que, quase uma década depois, Sandra Gomide segue sendo triplamente vitimada: pelo assassinato covarde, pela ausência de Justiça e pelo esquecimento decretado pela omissão da imprensa... São quase dez anos de um assassinato covarde, impune graças a chicanas de advogados e sob o silêncio omisso da grande imprensa”.
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http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/files/2010/08/colagem-pimenta.jpg


http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/quase-11-anos-depois-o-jornalista-pimenta-neves-vai-ser-preso.html



24 de maio de 2011

Jornalista Pimenta Neves é preso em São Paulo

Fernanda Simas, iG São Paulo


Agentes da Divisão de Captura da Polícia Civil de São Paulo prenderam, em casa, o jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves, no bairro de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo. Com uma ordem de prisão em mãos, três delegados entraram na casa do jornalista e negociaram a sua saída. Ele é levado para o Departamento de Captura da polícia. Na sequência será encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) e depois para o 13º DP, para aguardar sua transferência para algum presídio. Ao sair, sem algemas, Pimenta Neves mostrou tranquilidade: “Não tenho nada a declarar e não estou suspreso”.
Segundo o advogado Itagiba Francês, que trabalha na equipe que defende o jornalista, “Pimenta Neves  se entrega sem exigências. Ele já estava esperando por isso. Esse é um momento de tristeza. Foi uma tragédia para as duas família”.
Os ministros da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) determinaram na tarde desta terça-feira que o jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves comece a cumprir a pena de 15 anos de reclusão em regime inicialmente fechado à qual foi condenado pelo assassinato da também jornalista Sandra Gomide, em 2000. Os ministros rejeitaram por unanimidade um recurso da defesa de Pimenta e concluíram que chegou a hora de ele começar a cumprir a pena.
Pimenta Neves confessou o assassinato de Sandra Gomide, que foi sua namorada. Sandra foi morta em um haras localizado na cidade de Ibiúna, em São Paulo.
No julgamento deste último recurso, a 2ª Turma do STF seguiu a decisão do ministro Celso de Mello e considerou precluso o Agravo, ou seja, entendeu que a defesa não apresentou novos argumentos em relação ao que já tinha sido julgado pelo STJ. Por sugestão da ministra Ellen Gracie, o ministro Celso de Mello determinará ao juiz de Ibiúna a imediata execução da pena. “É chegado o momento de cumprir a pena”, afirmou Celso de Mello. “O jornalista valeu-se de todos os meios recursais postos à disposição dele. Enfim, é chegado o momento de cumprir a pena”, disse o ministro. A comunicação oficial da decisão será feita também ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Tribunal de Justiça de São Paulo.
Segundo a ministra Ellen Gracie, o caso Pimenta Neves é um dos delitos mais difíceis de se explicar no exterior. “Como justificar que, num delito cometido em 2000, até hoje não cumpre pena o acusado? A ministra qualificou como um exagero a quantidade de recursos apresentados pela defesa do jornalista, embora todos estejam previstos na legislação brasileira.
Para o ministro Ayres Britto, o número de recursos apresentados pela defesa beira o “absurdo” e foi responsável por um “alongamento injustificável do perfil temporal do processo”. Na opinião do presidente da Segunda Turma, ministro Gilmar Mendes, “este é um daqueles casos emblemáticos que causam constrangimentos de toda ordem”, assim como o caso do assassinato dos fiscais do Trabalho de Unaí (MG) e da deputada alagoana Ceci Cunha, e que provocam uma série de discussões sobre a jurisprudência em matéria de trânsito em julgado. “Não raras vezes, os acusados se valem dos recursos existentes e também do excesso de processos existentes nos tribunais”, disse.
O recurso pendente no STF e negado hoje era o último que o mantinha em liberdade. O iG tentou contato com a advogada de Pimenta Neves, mas não obteve retorno.
Penas
Em maio de 2006, Pimenta Neves foi condenado a 19 anos e dois meses de prisão pelo assassinato pelo Tribunal do Júri. Como o réu confessou o crime, a defesa recorreu e a pena foi reduzida para 18 anos de prisão. Depois de ter a prisão decretada, o jornalista conseguiu Habeas Corpus e aguardava o trânsito em julgado da sentença condenatória em liberdade desde então.
Em setembro de 2008, o Superior Tribunal de Justiça analisou recurso contra a decisão que o condenou e decidiu que Pimenta deveria cumprir pena de 15 anos de prisão. Além disso, o jornalista foi condenado a pagar uma indenização superior a R$ 400 mil aos pais da jornalista Sandra Gomide.  
Caso
Em 20 de agosto do ano passado, o assassinato de Sandra Gomide completou 10 anos. Pimenta Neves deu dois tiros na ex-namorada, pelas costas, em um haras em Ibiúna, no interior de São Paulo. O jornalista confessou o crime. Sandra conheceu Pimenta Neves, 30 anos mais velho do que ela, em 1996. Depois que o namoro terminou, ele não se conformou e passou a vigiá-la e a mandar mensagens com ameaças.

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Folha de São Paulo, 23/07/2010

Pressa em condenar
RUY CASTRO

O delegado encarregado do caso Bruno acaba de completar seus 30 dias de fama. Durante esse período, investigou, acusou, julgou, condenou e só faltou passar a sentença sobre o jogador. Muito além da sola, foi detetive, carcereiro, promotor, júri e juiz. Tal versatilidade pode representar uma economia para os cofres do Estado, mas está em desacordo com noções elementares de justiça.
Ocupado em dar entrevistas, ele só não teve tempo de apresentar as provas de que necessitava -nem mesmo o corpo de Eliza Samudio, dado de barato desde o primeiro instante. Com isso, o advogado de defesa já conta com a vitória numa primeira instância, tantas são as supostas irregularidades técnicas.
Aliás, este é dos raros casos em que o uso do "suposto" -recurso adotado pela imprensa para noticiar sem se comprometer- se aplica. Enquanto não encontrarem o cadáver, Bruno deveria ser apenas o suposto assassino ou mandante. Ou nem isso, porque ainda não está configurado o crime. Pois, justamente neste caso, alguns tabloides e canais de TV já partiram para a acusação frontal: Bruno é tratado como assassino ou mandante, e não se discute.
O curioso é que, um mês depois, o imbróglio parece mais enrolado do que nunca. Pelos depoimentos, Bruno, três cúmplices, seis ou sete testemunhas e uma mulher diferente por semana entram e saem de carros, motéis e chácaras, e o bebê passa de mão em mão enquanto eles se acusam e se desdizem deixando todo mundo tonto. É Agatha Christie ao ritmo dos Irmãos Marx.
No Brasil, temos pressa em condenar. Mas, uma vez estabelecida a condenação, não há pressa para executar a sentença. O jornalista Antonio Pimenta Neves, por exemplo, réu confesso, julgado e condenado pela morte de sua ex-namorada, arrisca-se a morrer de velhice fora da prisão onde deveria estar há dez anos.

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