sexta-feira, 27 de maio de 2011

As mesquinharias e a história

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnoWlaMjlmvfY0jK57dNTh07taOFvEgiR6viHBmV9x4v7hRwnL_yP2i2L8tpAp1HNXGeHPkhbreAWvy5OtSzKaPQE5Lm76WktoZ0syuNXw6Y1kDXUQbf6WvEaedok0QLTm5xjEDpGDTlo/s400/AtentadoSerajevoArquiduqueFrancisco.jpg
O atentado contra o Arquiduque Francisco Ferdinando 

Sexta-Feira, 27 de Maio de 2011

As mesquinharias e a história


José Luís Fiori

[...] foi de mesquinharia em mesquinharia, de pequena em pequena coisa, que finalmente as grandes coisas se formaram.”
M. Foucault, “A verdade e as formas jurídicas” p: 16, 2003, Nau Editora, RJ

O filósofo francês, Michel Foucault (1926-1984), teve participação decisiva no debate epistemológico da segunda metade do século XX, questionando de cima a baixo, a visão clássica da filosofia ocidental, a respeito da ciência e da história. Junto com vários outros pensadores europeus e norte-americanos, colocou sob suspeita a existência de um conhecimento e de um “método científico” universal, e criticou a idéia de uma história humana evolutiva, progressiva e teleológica. Para Foucault, a história é descontínua, plural e dispersa, e “as coisas que parecem ser as mais evidentes, nascem sempre da confluência de encontros, acasos, ao longo de uma história frágil e precária.”

A visão da ciência e do conhecimento de Michel Foucault remete à uma discussão epistemológica extremamente complexa. Mas sua visão da história acabou se popularizando, ao se associar de forma simplificada à sua própria afirmação de que sempre houve alguma “mesquinharia” na origem de todos os grandes acontecimentos históricos. Como ele dizia, toda grande mudança teve “pequenos começos, baixos, mesquinhos, inconfessáveis.” O que Foulcault nunca explicou foi como identificar e distinguir uma “mesquinharia” que terá “grandes conseqüências”, de uma “mesquinharia” que será esquecida imediatamente pelos seus contemporâneos.

Com certeza, o problema não é simples nem fácil de responder. Basta comparar alguns acontecimentos bem conhecidos. Por exemplo, todos os que assistiram pela televisão, os atentados de 11 de setembro de 2001, tiveram certeza imediata de que estavam frente à uma “mesquinharia” que mudaria o rumo da história. Mas quase ninguém conseguiu perceber – na hora - a importância e as conseqüências catastróficas do tiro que foi dado pelo estudante Gavrilo Princip, de 19 anos de idade, no dia 28 de junto de 1914, na cidade de Sarajevo, na Boznia-Hersogovina, responsável pela morte do arquiduque Francisco Ferdinando, e de sua esposa, Sofia Chotek, herdeiros do trono da Áustria. Uma micro-história rocambolesca, que deu origem à Primeira Guerra Mundial, foi responsável por um dos maiores genocídios da história humana, e mudou radicalmente a história da Europa e do Mundo.

Outra dificuldade aparece quando se compara uma mesma “mesquinharia” e suas conseqüências, em momentos e contextos distintos. Como é o caso, por exemplo, da “compulsão sexual” do presidente Kennedy, que contribuiu para sua aura de jovem rico, de sucesso e traquinas. Ao contrário do presidente Clinton, que tinha o mesmo entusiasmo sexual, e quase sofreu um impeachement por conta de sua relação com Monica Lewinski, que paralisou inteiramente o seu segundo mandato. Para não falar do caso mais recente do senhor Dominique Strauss-Kahn, que perdeu a presidência do FMI e da França (provavelmente), graças às suas “mesquinharias sexuais”. Ou seja, como se pode ver, não é fácil de saber, de antemão, quais mesquinharias ficarão e quais irão para a lata de lixo da história.

Agora mesmo, o Brasil está vivendo uma experiência epistemológica extremamente interessante e ilustrativa a respeito deste assunto. O caso de um mesmo personagem político, que comete duas vezes duas “mesquinharias” parecidas, mas com conseqüências opostas.

Primeiro, foi a quebra do sigilo bancário do jardineiro Francenildo, e agora foi a denúncia do seu enriquecimento súbito, segundo parece, no tráfico de influências dentro do setor público. O mais provável é que estas duas mesquinharias tivessem passado desapercebidas, caso se tratasse apenas de um homem comum, sanitarista de interior, ou representante de algum laboratório produtor de vacinas, com grande compulsão financeira e que subiu rápido na vida fazendo uso de suas boas relações publicas. Mas tudo isto muda obviamente de figura e importância quando se está falando de um homem de Estado, que esteve situado no epicentro da política econômica, e agora supervisiona as nomeações e decisões estratégicas de um governo em pleno processo de formação.

No caso do jardineiro Fracenildo, o afastamento do Ministro da Fazenda permitiu uma virada à esquerda que abriu as portas para o sucesso do segundo governo Lula. Mas neste segundo caso, as conseqüências que estão em pleno curso estão apontando numa direção absolutamente oposta. Graças às novas “mesquinharias financeiras” do mesmo personagem, o que vinha sendo apenas um governo insípido e tecnocrático – de economistas para economistas – agora está assumindo a imagem do seu principal condutor político: a de um velho lobbista do setor privado, junto aos centros de poder responsáveis pelas compras, vendas e investimentos do setor público; e a de um representante político ativo, e membro novo-rico da direita econômica.
José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
.....

http://www.robsonpiresxerife.com/blog/wp-content/uploads/2011/05/palocci-mister-M.jpg


São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2011

Procuradoria abre investigação sobre os bens de Palocci

ANDREZA MATAIS
FERNANDA ODILLA

DE BRASÍLIA

O Ministério Público Federal abriu investigação para apurar se o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) enriqueceu ilicitamente.
A Folha revelou que o ministro multiplicou seu patrimônio por 20 em quatro anos (2006-2010), período em que ele acumulou as funções de deputado e consultor.
Palocci comprou um apartamento de R$ 6,6 milhões e um escritório de R$ 882 mil.
No ano passado, a empresa do ministro, a Projeto, teve um faturamento bruto de R$ 20 milhões, mais da metade obtido após a eleição da presidente Dilma Rousseff, quando Palocci coordenava a transição do governo.
O foco da ação é apurar se a evolução patrimonial do ministro é compatível com os ganhos de sua empresa.
Caso contrário, Palocci pode responder por improbidade administrativa, o que significa "auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo" ocupado.
O Ministério Público do Distrito Federal pediu ontem à Receita Federal cópia da declaração do Imposto de Renda da empresa.
A Projeto terá que informar a relação de seus clientes e serviços prestados, como cópia de pareceres e registros de reuniões.
A Receita e a empresa têm 15 dias para se manifestar.
Palocci tem se recusado a informar qual foi o faturamento da Projeto e quem são seus clientes. O ministro alega que os contratos têm cláusula de confidencialidade.
O procurador da República José Rocha Júnior justifica a abertura da investigação dizendo que "não foram apresentados publicamente justificativas que permitam aferir a compatibilidade dos serviços prestados com os vultosos valores recebidos".
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também pediu informações a Palocci para decidir se abre investigação contra o ministro na área criminal.
O procurador avalia, por exemplo, se houve tráfico de influência. Até ontem, Palocci não havia enviado explicações à Procuradoria-Geral.
Por ser ministro, Palocci tem foro privilegiado para responder ao Supremo Tribunal Federal na área criminal. Mas, pela lei, os procuradores de primeira instância (caso da Procuradoria do Distrito Federal) têm competência para investigar denúncias de improbidade, que se referem à área cível, mesmo que envolvam autoridades com foro privilegiado.
A Lei de Improbidade Administrativa prevê sanções como a demissão e a suspensão de direitos políticos e a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente.

Ministro diz a senadores que recebia "taxa de sucesso"

VERA MAGALHÃES
DE SÃO PAULO

O ministro Antonio Palocci (Casa Civil) disse ontem, em almoço com senadores do PT, que sua empresa de consultoria recebia taxa de sucesso nos negócios de clientes que ajudasse a viabilizar.
Palocci explicou que a Projeto tinha três nichos de atuação: palestras e seminários, análise econômica e de risco e, por fim, o aconselhamento em negócios como investimentos e fusões.
Era nessa terceira modalidade que a empresa recebia taxa de sucesso.

Palocci disse que, quando a Comissão de Ética Pública o orientou a transformar a empresa de consultoria em administração imobiliária, encerrou contratos que estavam em andamento, o que levou ao pagamento de pro rata -percentual pelo serviço realizado até ali.
Isso explicaria o aumento de faturamento no fim do ano eleitoral de 2010.
O ministro, segundo participantes, foi enfático ao afirmar que não revelará os clientes para os quais trabalhou, ainda que isso traga "consequências". Disse que a divulgação dos nomes tornaria as empresas vulneráveis a perseguição política.
O ministro afirmou ainda que nunca usou sua posição política para fazer lobby.
Numa demonstração de que não pretende deixar o governo, disse que vai cuidar da nomeação dos cargos de segundo escalão.

Colaborou a Sucursal de Brasília

Nenhum comentário:

Postar um comentário