terça-feira, 22 de março de 2011

Armas para o povo

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São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2011
 
Armas para o povo

VLADIMIR SAFATLE


Foi correta a decisão brasileira de se abster da votação que acabou por legalizar uma modalidade ainda indefinida de intervenção militar na Líbia. Não se trata do resultado de algum juízo de valor a respeito do regime de Gaddafi, mas de uma questão relativa à real eficácia da intervenção.
Aqueles que têm para com ele alguma complacência, normalmente em nome da luta anti-imperialista, dão prova de acreditarem no primarismo de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo.
Na verdade, Gaddafi é a figura mais bem-acabada de um imperador que deteria um poder soberano em situação de exceção e que se demonstrou capaz de pagar mercenários para esmagar manifestações de seu povo. Poderíamos até sugerir um slogan: Gaddafi, um imperador na luta contra o imperialismo.
Porém a proposta francesa de zona de exclusão aérea tem tudo para produzir consequências ruins. Não se trata do argumento da primazia da soberania nacional, embora seja verdade que a submissão da soberania nacional aos crimes contra os direitos humanos só valha, atualmente, para países escolhidos a dedo.
O primeiro problema com a proposta aprovada na ONU é permitir a Gaddafi remobilizar parte da população líbia em nome da luta contra "antigas potências coloniais".
Em uma região marcada por forte nacionalismo e desconfiança em relação às "boas ações" de países como França, Reino Unido e EUA, não é difícil imaginar que um argumento dessa natureza possa acirrar as divisões internas na Líbia. Segundo, ela perpetua a velha parcialidade que minou o discurso democrático do Ocidente no Oriente Médio.
Se o interesse é, realmente, uma intervenção humanitária em defesa dos manifestantes líbios, é difícil entender por que a proposta não valeria ainda para a defesa dos manifestantes do Bahrein, já que esses também são objetos da truculência de um monarca absoluto que tem, agora, apoio das tropas sauditas.
A única explicação plausível é o monarca do Bahrein ser um "ditador amigo".
Por fim, a proposta parece querer colonizar um movimento que, até agora, foi interno aos povos da região e que deu frutos a partir de suas próprias ações. Por isso, se os países ocidentais quisessem realmente auxiliar os rebeldes líbios, eles mandariam armas para a população civil, dando as condições para que a própria população civil lutasse contra as armas que países como a Itália venderam para Gaddafi há bem pouco tempo.

VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.
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Secretário da ONU é cercado por partidários de Gaddafi no Egito

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS


O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, foi obrigado a se refugiar ontem dentro da sede da Liga Árabe, no Egito, depois de ser cercado por manifestantes líbios.
O grupo protestava contra a intervenção militar internacional autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU, que iniciou bombardeios contra o regime do ditador da Líbia, Muammar Gaddafi.
Cerca de 50 líbios fecharam a entrada principal do edifício, localizado no Cairo, e impediram a saída de 15 dirigentes, incluindo o secretário-geral e a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet.
Empunhando bandeiras da Líbia, o grupo entoava gritos de guerra como "Abaixo, Estados Unidos!" e "Alá, Muammar e Líbia". Policiais tiveram de intervir e retirar Ban Ki-moon por uma saída alternativa.
Antes de ser acuado, o diplomata sul-coreano havia se reunido ontem com o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, para analisar a situação nos países árabes, que enfrentam uma onda de revoltas e manifestações populares.
Após a reunião, ele deu entrevista coletiva e pediu que as "autoridades líbias parem imediatamente de matar civis [no país]".

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