segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Chineses ditam regras para a energia eólica

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São Paulo, segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Chineses ditam regras para a energia eólica

Por KEITH BRADSHER TIANJIN, China

A julgar pelo ruído da sua fábrica aqui, a empresa espanhola Gamesa parece prosperar no setor chinês da energia eólica, de cuja criação ela participou. Mas a Gamesa sofreu para aprender que, se quiser competir nesse lucrativo mercado, é preciso seguir regras rígidas, feitas para favorecer Pequim.
Quase todos os componentes que a Gamesa põe em suas turbinas de US$ 1 milhão, por exemplo, são fabricados por fornecedores locais -empresas que a Gamesa treinou para atender às complicadas exigências locais. Mas esses mesmos fornecedores prejudicam a Gamesa ao vender peças para novos concorrentes chineses, fabricantes de turbinas eólicas que não existiam em 2005, quando a Gamesa controlava mais de um terço do mercado chinês.
Os novos concorrentes já abocanharam mais de 85% do mercado de turbinas eólicas, ajudados por empréstimos a juros baixos e pela cessão de terrenos baratos por parte do governo, além de contratos preferenciais com as estatais energéticas que são as principais compradoras de equipamentos. A participação da Gamesa no mercado hoje se limita a 3%.
Com as benesses governamentais, as empresas chinesas já controlam quase metade do mercado global de turbinas eólicas, um negócio de US$ 45 bilhões. A maior delas mira agora os mercados externos, particularmente os EUA, onde a General Electric lidera.
A história da Gamesa na China replica o que ocorreu em outros setores, como os de computadores e painéis de energia solar. As empresas chinesas adquirem tecnologia ocidental de ponta por vários meios e tiram partido das políticas governamentais e dos seus baixos custos para se tornarem fornecedores dominantes em nível global.
É um padrão que muitos economistas dizem que poderá se repetir em outros campos, como trens de alta velocidade e reatores nucleares, caso a China não altere a forma como atua no jogo do desenvolvimento tecnológico.
Empresas estrangeiras estão tão ávidas pelo mercado chinês que não só se curvam aos ditames de Pequim como também abrem mão de se queixarem aos seus próprios governos.
Mesmo agora, a Gamesa não reclama. Embora sua participação no mercado chinês tenha se atrofiado, o volume de vendas de turbinas eólicas no país cresceu tanto que a Gamesa vende hoje mais que o dobro do que quando era líder.
A Gamesa, fabricante de maquinário tradicional, no setor eólico desde 1994, é a terceira maior produtora mundial dessas turbinas, atrás da dinamarquesa Vestas, a líder global, e da GE.
A empresa espanhola agiu agressivamente para aumentar suas vendas e a rede de assistência técnica dentro da China e, em 2005, angariava 35% do mercado.
Mas, em 4 de julho daquele ano, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China baixou uma portaria declarando que as usinas eólicas precisavam comprar equipamentos em que pelo menos 70% do seu valor fosse de fabricação nacional.
Especialistas em direito comercial dizem que estabelecer exigências de conteúdo local -ainda mais numa proporção tão elevada- é violação das regras da Organização Mundial do Comércio.
Mas o governo chinês apostou que a Gamesa, a GE e outras multinacionais não correriam o risco de perder uma fatia do próspero mercado eólico chinês ao se queixarem com as autoridades comerciais dos seus países de origem.
Só em meados de 2009, os EUA passaram a pressionar mais a China sobre a regra do conteúdo local. O governo chinês revogou-a dois meses depois, mas àquela altura tal política não era mais necessária. Algumas turbinas eólicas da Gamesa já superavam 95% de peças com produção local.
Eis uma situação que pode complicar o debate sobre a mudança climática no Ocidente. Os desenvolvedores da energia eólica no Ocidente temem que os governos ocidentais se entusiasmem menos em estimular energias renováveis se houver a impressão de que esses programas estão criando mais empregos e riqueza na China do que nos seus próprios países.

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