segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Brasileiros são indenizados nos EUA

São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Rodrigo Barbosa/Folhapress
Lupércio Rocha, 42, sofreu um acidente em abril e agora aguarda a decisão da Justiça

RACHEL BOTELHO
DE SÃO PAULO

Brasileiros que tentam a vida nos Estados Unidos, a maioria deles em condição irregular, estão ganhando indenizações milionárias por acidentes de trabalho.
A maior parte saiu do Paraná em busca dos altos salários (até US$ 80 ou R$ 135 a hora) pagos na manutenção de pontes. Alguns voltaram para casa com US$ 2 milhões (R$ 3,4 milhões), em média.
Nos últimos três anos, um único escritório de advocacia de Nova York arrecadou US$ 30 milhões (cerca de R$ 51 milhões) para imigrantes brasileiros -70% ilegais.
Os acordos são mediados pela Justiça e quem paga a conta são as seguradoras.
O fato de estar irregular no país não impede o acesso à indenização - nem o direito à educação, por exemplo. Mas é comum que pessoas em situação ilegal não busquem o benefício por medo.
"Mais do que dos patrões, os ilegais sofrem intimidações de colegas puxa-sacos, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra", afirma o brasileiro Ailton Souza, investigador do escritório Koehler & Isaacs.
A história do paranaense Oliveira, que não divulga o nome completo com medo da violência, é semelhante à de muitos desses imigrantes.
Em 2007, ele caiu de uma ponte na costa leste dos EUA, quando o andaime rachou.
A empresa ainda tentou processá-lo, a pretexto de sua situação irregular, mas não conseguiu. "O juiz considerou que eles estavam errados porque deviam ter checado isso antes"
, diz.
Nos três anos que durou o processo, Oliveira permaneceu nos EUA. Em setembro de 2009, recebeu US$ 3,5 milhões (R$ 6 milhões).
De volta ao Brasil há um mês, ele diz que o dinheiro mudou sua vida. "Saí de lá rico e sem sequelas, agora quero dar para minhas filhas o que não tive."

RESERVA
Na última década, os mineiros de Governador Valadares perderam espaço para os paranaenses na manutenção de pontes nos EUA.
"O pessoal de Reserva [215 km de Curitiba] foi trazendo os parentes e hoje controla as pontes", diz o investigador Souza. Estimativas informais apontam 1.500 reservenses trabalhando nos EUA -a cidade, próxima a Ponta Grossa, tem 24 mil habitantes.
Leandro, que também não diz o nome completo, saiu de lá com 18 anos. Nos EUA, caiu de uma obra no dia em que iria visitar um conterrâneo acidentado na ponte.
"Sabia que quem sofre acidente lá normalmente pede indenização. Aqui de Reserva muitos já ganharam. Só eu tenho ligação com seis."
Com a indenização, recebida em 2003, Leandro comprou um caminhão e imóveis e decidiu parar de trabalhar.


DEPOIMENTO

Após acidente, curitibano espera decisão da Justiça sobre indenização

DE SÃO PAULO

Em abril, o curitibano Lupércio Rocha, 42, sofreu um acidente e ficou com sequelas que o impedem de trabalhar. Leia seu depoimento:

"Subi na ponte para inspecionar os cabos de segurança, mas a escada estava molhada, ventava e acabei caindo de 18 pés [5,5 m]. A escada era antiga e fina, o que contraria o regulamento.
Fiz quatro cirurgias. Entrei em depressão, não tenho força no lado esquerdo e estou andando com bengala.
Enquanto o escritório [de advocacia] estuda o caso, uma firma de seguro me paga um salário. Quando ganhar, vou pedir aposentadoria e, se Deus quiser, volto a estudar."

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