sábado, 20 de novembro de 2010

Com que foto que eu vou?

São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2010


CLÓVIS ROSSI 
 
HÁ UMA DISPUTA velada entre o desejo dos Estados Unidos de que a primeira foto internacional de Dilma Rousseff, ainda antes da posse, seja com Barack Obama, e a intenção dos assessores da presidente eleita de que a foto seja com o Sul, em vez do Norte.
Disputa que tem muito a ver com simbologia e pouco com a substância da política externa do próximo governo.
Explico: encontros de cúpula, bilaterais ou multilaterais, não se destinam a definir ou alterar a agenda dos governantes, mas a referendar o trabalho feito pelos seus ministros e/ou assessores graduados.
Quem duvida pode conferir lendo os caudalosos textos produzidos, primeiro, pelos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20, emitido em 23 de outubro, e o texto posterior dos governantes do grupo, do último 12. São praticamente idênticos. Os chefes de governo pouco ou nada de substancial acrescentaram ao produzido pelos ministros/BCs.
Aí é que entra a simbologia da foto. Se Dilma aceitar o convite dos Estados Unidos, irá a Washington no início de dezembro, depois da festa de "Thanksgiving", no dia 25.
Será, de todo modo, antes da cúpula do Mercosul, dia 17, a única atividade internacional até agora praticamente confirmada da presidente eleita.
A simbologia será lida mais ou menos assim: o Brasil pode adorar Hugo Chávez, pode negociar com o Irã, pode fazer parte do BRIC (com Rússia, Índia e China), mas a primeira foto internacional da nova presidente será com Barack Obama.
Ou, se a viagem aos EUA ficar para depois da posse, dirão: os Estados Unidos podem ter com o Brasil uma parceria estratégica (assinada pelos presidente Luiz Inácio Lula da Silva e George Walker Bush), o relacionamento bilateral pode viver um momento excepcional (palavra que Lula adora usar), mas a primeira foto de Dilma foi com os presidentes do Mercosul.
São todos os da América do Sul, com exceção das Guianas, Equador, Colômbia e Peru, mas os que contam, para imagem e, portanto, simbolismo, são Cristina Fernández de Kirchner e Hugo Chávez.
Sem menosprezar a importância do simbolismo na política, interna ou externa, suspeito que Dilma pode dispensá-lo. Está em posição inversa à de Barack Obama, quando ele assumiu.
O norte-americano viera para mudar e, por isso, desandou a emitir mensagens para todos os lados (para os muçulmanos, para a Rússia, para a China, para a Europa). Foram mensagens, no geral, muito bem colocadas. Se não houve consequências, é outra história.
Dilma, ao contrário, veio para dar continuidade, interna e externamente, até porque está dando certo. No plano externo, o Brasil ganhou um reconhecimento e um papel inéditos.
Por isso, dá-se por assentado que a política externa continuará com o ecumenismo absoluto da era Lula: busca de parceiros em todas as latitudes, em todas as ideologias, entre ricos e pobres. Mas com a inevitável prioridade para a América do Sul, por uma condenação geográfica (ou bênção, ao gosto de cada um). Ainda assim, nesta era de imagens, dirá algo sobre a diplomacia Dilma se a primeira foto for com Obama ou com Cristina/Chávez.

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