sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os venenos da Monsanto

Para quem conhece os verdadeiros valores deste sistema chamado capitalismo, o que está registrado abaixo não será surpreendente.


Os venenos da Monsanto

Por Guilherme Saldanha

Resultado de quatro anos de pesquisa, “O Mundo segundo a Monsanto”, livro da jornalista francesa Marie-Monique Robin, traduzido agora para o português pela Editora Radical Livros, passa a limpo a história da empresa norte-americana, revelando seu envolvimento em diversos escândalos ocorridos no último século.
Lançada inicialmente como um documentário produzido e transmitido pelo canal de TV franco-alemão ARTE, a versão impressa de “O mundo segundo a Monsanto” já foi traduzida para doze línguas, tornando-se best-seller em diversos países.
Além de investigar a atuação criminosa da companhia de Saint Louis, EUA. em seu país de origem, Robin revela também os detalhes pouco conhecidos da “transgenização” dos campos de soja nos países do Mercosul e faz um alerta: “Em poucos anos nós viveremos uma epidemia de câncer causada pelo uso abusivo de agrotóxicos”.


Como você se interessou pela investigação da Monsanto?
Eu trabalho como jornalista há 25 anos, para a televisão e escrevendo livros. Como filha de fazendeiros eu já dirigi outros filmes sobre agricultura no mundo e devo dizer que até seis anos atrás eu pouco sabia sobre organismos geneticamente modificados (OGMs). Eu era mais uma vítima da desinformação em relação a essa questão, eu achava que essa era uma questão simples, um gene a mais, um gene a menos... Mas eu estava muito preocupada com o tema da biodiversidade. Eu já tinha feito três filmes para o canal franco-alemão ARTE sobre biodiversidade e sobre a extinção de plantas e animais. Trabalhando nesses documentários e viajando para várias partes do mundo, incluindo o Brasil, eu ouvia falar da Monsanto, porque, claro, ela é hoje a maior empresa de sementes do mundo e também a primeira produtora de OGMs e eu me lembro, como explico no livro, quando estava filmando na Índia, de conversar com agricultores ligados à Via Campesina quando um deles me disse: “Você deveria investigar a Monsanto. Nós queremos saber por que ela vem comprando todas as empresas que vendem semente na Índia, queremos saber qual é seu objetivo”. Então, por acaso, eu comecei a simplesmente procurar por links sobre a empresa no Google e acabei topando com muitas informações: suicídios na Índia, intoxicação por substâncias cancerígenas, agente laranja, manipulação de resultados científicos, muita coisa! Eu me lembro de passar dias e noites na tela do computador, está tudo lá, documentos confidenciais, documentos internos, estudos, etc. Tudo pela ação dos chamados whistleblowers, pessoas de dentro das empresas que fazem “vazar” esses documentos anonimamente, pessoas da FDA (agência norte-americana para os medicamentos e alimentos), ou da EPA (agencia norte-americana de proteção ambiental), que tentam alertar o público- e acabei acumulando dois gigabytes de dado sobre a empresa! Muita coisa! E o que eu tentei mostrar no meu livro e no filme é que toda essa informação está disponível. Nós não podemos dizer que nós não sabemos...

Qual é a história da Monsanto?
A Monsanto começa como uma empresa de químicos, na verdade como uma líder nesse campo. No começo do século XX, eles costumavam fabricar vários produtos tóxicos como os PCBs, usados em vários aparelhos, como transformadores elétricos. Um dos grandes clientes da Monsanto nos EUA era a General Electric. Quando eu comecei a investigação eu não sabia o que eram PCBs e acabei descobrindo que hoje em dia é proibida a produção desses componentes na França e apesar disso ainda existem muitos aparelhos que o utilizavam esperando para serem destruídos. E é preciso cuidado para destruí-los por que eles liberam dioxina, uma substância tóxica que contamina o ar, a água. Hoje em dia, todas as pessoas possuem PCBs na corrente sangüínea graças aos produtos da Monsanto.  Eu recebi no mês passado um estudo de Washington, um estudo feito com 300 recém nascidos, e todos eles tinham alta percentagem de PCBs, dioxina, pesticidas, ou metais pesados no corpo. Quer dizer, todos já estavam contaminados. Os PCBs são um bom exemplo de como a Monsanto se comportou e se comporta no mundo. Quer dizer, eles sabiam que os PCBs eram altamente tóxicos, arquivos confidenciais, provam isso. Eles sabiam pelo menos desde 1937 dos efeitos cancerígenos, dos efeitos maléficos sobre o sistema reprodutor. É, realmente, um veneno. Eles sabiam e esconderam os dados, não contaram a ninguém, nem aos funcionários que trabalhavam dentro das fábricas, nem ao governo. Na verdade é pior do que isso. Para você ter uma idéia, o Congresso norte-americano admite a existência de duas categorias de crimes de colarinho branco. Uma categoria para empresas que sabem que seus produtos são tóxicos e não dizem nada para os consumidores. Outra categoria para empresas que, sabendo da toxicidade de seus produtos fazem campanhas dizendo que esses produtos não representam perigo algum. E isso é um outro nível de irresponsabilidade. É o caso da Monsanto, porque eles simplesmente mentiram.

Além dos PCBs, a Monsanto também esteve envolvida na produção de agente laranja, não é isso?
Sim. O agente laranja foi produzido pela Monsanto e por outras sete empresas. Durante anos foi utilizado na agricultura e como arma na guerra contra o Vietnã. Hoje é proibido, depois de três décadas sendo despejado em fazendas. Nesse caso, a Monsanto produziu um falso estudo provando que não havia relação entre a exposição à dioxina (subproduto do agente laranja) e o desenvolvimento do câncer. Ao contrário da Dow Chemicals, que quando soube que soldados americanos seriam expostos ao agente laranja disseram “espera um pouco”, a Monsanto foi em frente. É outro nível de irresponsabilidade.

E como, desse passado ligado à indústria química, a Monsanto começou a desenvolver os transgênicos?
No documentário eu apresento uma filmagem extraída da TV americana bastante esclarecedora sobre como se deu essa transição. Nela você vê Bush pai, então vice-presidente dos EUA, visitando um dos laboratórios da empresa em Saint Louis e é uma cena realmente incrível. Se passa em 1987 e a Monsanto está começando a pesquisar OGMs – as primeiras sementes geneticamente modificadas seriam comercializadas somente sete anos depois.

Em 1993, não é?
Sim, 1993, 1994. E desde o começo eles estão trabalhando em um OGM resistente aos herbicidas. Eles estão trabalhando nos transgênicos com o objetivo de aumentar as vendas de herbicidas, isso é muito claro. Porque eles já eram líderes na comercialização de herbicidas por trinta anos, mas estavam perdendo o monopólio. Portanto, o objetivo deles era arrumar uma maneira de preservar o seu mercado. E conseguiram porque hoje 70% dos campos de soja são semeados com as sementes modificadas resistentes ao Roundup (herbicida produzido pela Monsanto). Quer dizer, a Monsanto ainda é uma empresa do setor químico. Claro que eles vendem sementes, mas são sementes resistentes ao Roundup, isso que importa. Sementes para serem pulverizadas com seu herbicida. Um outro benefício advindo da produção dessas sementes são as patentes, pois a partir delas a Monsanto pode proibir os fazendeiros de replantarem as sementes resultantes da primeira semeadura e assim podem tomar conta do mercado de sementes, que é o primeiro elo na produção de alimentos.

E como a Monsanto controla o uso dessas sementes?
Uma das coisas foi a criação da “polícia dos genes”. Nos Estados Unidos eles criaram um número gratuito para o qual os fazendeiros poderiam ligar e denunciar seus vizinhos por uso irregular ou clandestino das sementes. A partir dessas denúncias, agentes contratados pela Monsanto extraíam amostras dessas plantações “suspeitas”, às vezes de maneira ilegal, e a partir delas processavam esses agricultores. Em alguns casos, os fazendeiros tinham suas plantações contaminadas pela soja transgênica de seus vizinhos, porque, claro, a Monsanto não conseguiu desenvolver uma maneira de parar a polinização.

.......


É... Complicado! Complicado!
A natureza não se deixa dominar tão facilmente!
 

 
Folha de São Paulo, 14/05/2010
 
Transgênico mata uma praga e traz outra
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A adoção de uma variedade de algodão transgênico por fazendeiros chineses permitiu controlar as lagartas que são a principal ameaça a essa cultura, mas foi vítima de uma reviravolta ecológica: um percevejo outrora inofensivo virou praga.
Presente na China há mais de uma década e aprovado para uso no Brasil só em 2009, o algodão transgênico Bt desfrutou de algumas boas safras.
Agora, porém, a praga emergente afeta a produtividade do vegetal e se espalha também para o cultivo de frutas, afirma um estudo de cientistas da Academia Chinesa de Agronomia.
Em artigo na revista "Science", o grupo mostra que os algodoeiros Bt estão enfrentando problemas pelo motivo inverso ao qual vinham sendo criticados por ambientalistas. Por muito tempo, transgênicos dessa variedade foram acusados de prejudicar insetos carismáticos, como a borboleta-monarca. Os percevejos mirídeos que viraram praga na China, porém, bem poderiam ter entrado nessa categoria antes.
As plantas Bt são resistentes a algumas pragas porque têm incorporado em seu DNA um gene da bactéria Bacillus thuringiensis, produtora de toxina letal para certos insetos. Percevejos mirídeos, porém, não são afetados pelos transgênicos.
"Antes da adoção do algodão Bt, um inseticida de amplo espectro contra [a lagarta] Helicoverpa armigera reduzia as populações de mirídeos; plantações de algodão atuavam como armadilhas sem saída", escrevem o cientista Yuyuan Go e seus colegas na "Science".
O grupo, porém, não defende que a solução para o problema seja uma volta ao uso de agrotóxicos químicos do tipo mata-tudo, que costumam gerar danos ambientais mais graves. A solução, dizem, é investir no "manejo integrado de pragas" para não ter de abrir mão dos benefícios que o Bt trouxe, como evitar pragas resistentes.
"No tratamento com inseticidas, às vezes é preciso usar três ou quatro tipos diferentes", afirma Olívia Arantes, geneticista da Embrapa Meio Ambiente especialista em Bt. Segundo ela, é improvável que o Bt também fosse se revelar uma solução para uso solitário.
Antes de ser incorporada aos transgênicos, a toxina da bactéria era borrifada diretamente nas plantas. O receio de as pragas evoluírem criando resistência ao Bt, segundo ela, é pequeno, pois existem muitas variedades da proteína que constitui a toxina, permitindo que os produtores se adaptem.
Na China, o algodão Bt teve tanto sucesso no fim da década de 1990 que se disseminou até conquistar 95% das fazendas dessa cultura. No Brasil, as estatísticas são incertas, porque esse transgênico começou a ser plantado de forma "pirata" antes da aprovação. Agora, as empresas Monsanto e Dow já podem comercializar a planta Bt. A Embrapa desenvolve novas variedades, ainda em teste.
Segundo Arantes, para o país se beneficiar dessa tecnologia, é preciso dar atenção ao estudo de interações ecológicas entre pragas, disciplina que lida justamente com efeitos como o ocorrido na China. "Essa é uma área de pesquisa que já está bastante ampla", afirma.


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