terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mineiros chilenos, vítimas da flexibilização trabalhista


Quarta-Feira, 13 de Outubro de 2010

Mineiros chilenos, vítimas da flexibilização trabalhista

Por Emir Sader

O presidente chileno Sebastien Piñera quer se fazer de herói do resgate dos mineiros, presos há mais de dois meses numa mina, mas ele é duplamente algoz dos trabalhadores daquele país. Em primeiro lugar, porque seu governo não controla as condições de exploração da força de trabalho, nem sequer do segmento mais importante da economia chilena. As condições subumanas de trabalho dos sofridos trabalhadores mineiros, principais produtores das riquezas fundamentais do país, não encontram nenhum controle dos órgãos do governo, além de que, com a quebra da empresa que os superexplora, nem sequer seus direitos básicos estão garantidos.

Mas de uma outra forma também Piñera é responsável pelas condições de trabalho dos trabalhadores chilenos. Ele é irmão de José Piñera – cujo grupo econômico é proprietário da LAN Chile, que acaba de comprar a TAM tristemente famoso por ter introduzido a chamada lei de “flexibilização laboral”, com a conhecida cantilena de que, diminuindo os custos de contratação da mão de obra - às custas dos direitos dos trabalhadores – se expandiria o mercado de trabalho e diminuiria o desemprego.

Utilizou a enganosa expressão “flexibilização”, para expropriar direitos trabalhistas, a começar pelo contrato com carteira de trabalho, o emprego formal. A maioria dos trabalhadores foram jogados na informalidade. Submetidos a condições ilimitadas de exploração.

Usam duas palavras enganadoras: flexibilidade e informalidade, que seduzem (as preferimos à inflexibilidade e à formalidade), mas neste caso seu verdadeiro conteúdo é: precariedade das condições de trabalho. É trabalhar sem contrato, sem possibilidade de apelar à Justiça, de associar-se, de ter uma identidade social.

Essa política, nascida na ditadura do Pinochet, foi se associando a todos os governos neoliberais na América Latina, fazendo com que a maioria dos trabalhadores do continente passasse a ser estarem submetidos à precariedade laboral, a não ter contrato de trabalho.

O governo tucano de FHC-Serra adotou essa política, com os mesmos mecanismos e argumentos do José Piñera e da ditadura pinochetista, causando níveis de exploração da força de trabalho (extração da mais valia), de desemprego aberto e camuflado, de precariedade, jamais vistos no Brasil.

Esses mineiros chilenos foram, eles também vítimas dessas condições de trabalho, a mesma a que passaram a ser submetidos a maioria dos trabalhadores latinoamericanos.

O governo Lula recuperou, regularmente, os contratos de trabalho formal, que aumentaram sempre, ao longo dos dois mandatos presidenciais, depois ter recebido uma herança também socialmente maldita do governo FHC-Serra. Essa uma diferença essencial entre os dois governos: desamparo dos trabalhadores diante da exploração ou afirmação dos seus direitos formais de trabalho.

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Jornal do Brasil, 13/10/2010 19h57

Falta de segurança foi a causa do soterramento de mineiros, diz OIT

Renata Giraldi, Agência Brasil
O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Juan Somavia, elogiou hoje (13) a operação montada pelo governo chileno para resgatar 33 mineiros soterrados há 70 dias na Mina San José, na região do Deserto de Atacama. Somavia ressaltou, porém, que os mineiros do Chile foram vítimas da falta de segurança adequada no local em que trabalhavam. 
Segundo Somavia, é constante o risco nos ambientes de trabalho. O setor de mineração envolve 1% da mão de obra no mundo.  
"Nós não podemos nos permitir esquecer como este terrível drama começou: simplesmente porque as medidas de segurança no local eram inadequadas”, disse Somavia.  "No Chile, a questão da segurança no trabalho é parte da agenda comum adotada pelo governo, empregadores e trabalhadores.”
Somavia ressaltou que cerca de 6,3 mil pessoas morrem diariamente em decorrência de acidentes de trabalho ou doenças profissionais. Pelos números da OIT, são 2,3 milhões de mortes por ano, envolvendo 337 milhões de acidentes de trabalho anualmente. 
Após o alerta, Somavia mostrou-se emocionado com o esquema de resgate dos mineiros, no Deserto de Atacama, e com o bom estado de saúde identificado nos que já haviam chegado à superfície. “Partilho a alegria de milhões de pessoas em todo o mundo com o retorno destes heróis das profundezas da terra", afirmou o diretor da OIT. "Por trás desta conquista impressionante, temos de admirar, sobretudo, a calma, a coragem, a organização e o amor à vida demonstrado pelos mineiros.”
De acordo com Somavia, a coragem dos trabalhadores causou admiração em todo o mundo. "Acima de tudo, vamos homenagear a solidariedade demonstrada pelas famílias dos mineiros e de toda a nação em relação à confiança no que parecia impossível ser realmente possível", disse ele.

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Que poética definição para este momento fez esta mulher.


São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"A mina acaba de parir", diz mulher do 1º resgatado
DA ENVIADA A COPIAPÓ

Blusão azul para proteger do frio do Atacama, capacete branco, Byron, 7, aguardava ansioso, à beira do buraco, a subida da Fênix 2.
Ela trazia seu pai, Florencio Ávalos, o primeiro dos mineiros resgatados ontem após 69 dias sob a terra.
No instante em que o cume da cápsula surgiu, à 0h11, Byron não se conteve. Pulou, parado no lugar. E correu apressado para abraçar o pai ao ver que a porta da gaiola foi aberta. Um abraço apertado, forte, de saudades.
Foi seguido por outros.
Porque Byron, claro, não era o único da família ali. A mulher de Ávalos, Monica, o filho mais velho, Alex, 16, os pais, Alfonso e María, e a irmã, Berta, estavam no acampamento de Copiapó havia dias. E tornaram-se celebridades momentâneas enquanto o mineiro não surgia.
"É uma honra que ele seja o primeiro a subir", repetiu durante todo o dia, Alfonso. O motivo da orgulho, o fato de o filho ter sido considerado o mais apto fisicamente e aquele com mais conhecimento técnico para encarar os problemas que poderiam surgir no primeiro resgate.
"A mina acaba de parir", disse Monica, emocionada.
De óculos escuros, barba feita e aparentando saúde, Ávalos foi colocado numa maca e levado para um hospital de campanha para uma série de exames. Cena que seria repetida por outros. Ao longo da madrugada, a mina daria à luz seus companheiros.
(LAURA CAPRIGLIONE)

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